Papagaios de papel

Jorge Cordeiro

Os acontecimentos decorrentes da acção das autoridades angolanas a propósito de Isabel dos Santos, assim como o apuramento de alegados actos que lhe são atribuídos, despertou recalcadas pulsões coloniais e neocoloniais.

Há os que por posicionamento original nunca se conformaram com a luta de libertação do povo angolano e a sua independência e que contra ela conspiraram para a impedir. Também aí as coincidências se confirmaram unindo os que alimentando a saga reacionária para liquidar a Revolução de Abril desde cedo intervieram para evitar um verdadeiro processo de descolonização. Há os que perante a determinação soberana de Angola juntaram forças ao apartheid para, pela guerra de agressão, o tentar destruir e comprometer o seu futuro, animando a acção terrorista encabeçada pela UNITA, delas beneficiando para traficar recursos.

E há os que, sem história nem memória, agem sem princípios nem critério, virados para o lado que sopre o vento, vindo de onde vier, desde que isso os faça, tal papagaio de papel, emergirem nos céus da mediatização. Os mesmos que no cálculo de uns votos cobriram a agressão dos EUA à Líbia, correram a apontar o dedo a Dilma ou a Lula da Silva, teceram loas aos «Guaidós» deste mundo, se excitaram com as «revoluções laranjas» ou «primaveras árabes».

Se isso redundou em mortes no Mediterrâneo, no estender de passadeira a Bolsonaro e a fascistas na Ucrânia, são meros danos colaterais. Guiados pelo salivar de ocasião nem dão conta que acabem no triste papel de compagnons de route dos projectos do imperialismo. Daí que, no seu pueril anti-comunista, não alcancem o significado das relações fundadas nas raízes históricas entre PCP e MPLA, ignorem o papel das forças que lideraram com inegável mérito, e inevitáveis erros, a libertação dos povos colonizados pelo fascismo português. Escamoteando também que cabe ao povo angolano, e somente a ele, decidir do destino do seu país e das soluções para ultrapassar problemas e dificuldades.

E que não percebem que, a partir de factos que devem ser apurados e julgados, se for esse o apuramento, há os que visam – seja FMI, EUA ou os impolutos de Davos – recuperar para a esfera da dominação neocolonial países que o processo histórico do século XX lhes subtraiu.




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