Cérebro, chumbo e pobreza

Manuel Rodrigues

O jornal Público divulgou há dias (14 de Janeiro) um estudo que refere que «a exposição ao chumbo pode estar associado a défices cognitivos», acrescentando que «a pobreza tem impacto no cérebro».

O estudo é de uma equipa coordenada por Elizabeth Sowell (da Universidade do Sul da Califórnia) a partir de testes cognitivos a 12 mil crianças nos EUA, que permitiu concluir que «o elevado risco de exposição ao chumbo (agravado pela pobreza) estava associado a resultados mais baixos nesses testes».

Bem vistas as coisas, até parece uma verdade de Monsieur de la Palisse. Há muito se sabe que uma alimentação pobre em proteínas, a exposição a situações de maior risco, a falta de condições dignas de habitação, a deficiente ou inexistente escolarização, a residência em bairros degradados, a falta ou insuficiência de estímulos psico-motores e sócio-culturais, o trabalho infantil, o desemprego ou os baixos salários dos pais, se reflectem no desenvolvimento global da criança, com incidência no seu desenvolvimento cerebral.

Os autores do estudo associam esse défice a uma maior exposição ao chumbo. Em especial ao chumbo presente em tintas das casas que, apesar de já proibidas nos EUA, se mantêm em muitas habitações (em mais de 72 mil bairros, naquele país), porque as famílias não têm recursos para as remover.

Não se põe em causa o óbvio interesse deste estudo. A exposição ao chumbo será, sem dúvida, um grave problema que afecta as famílias mais pobres, sempre as mais expostas a estes riscos. A estes e a outros, acrescente-se, como é o caso da exposição ao «chumbo» das sofisticadas bombas que o imperialismo norte-americano faz explodir nas guerras que fomenta pelo mundo e que deixam brutais sequelas nas vidas de milhões e milhões de seres humanos.




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