Internacionalização da guerra na Líbia

Carlos Lopes Pereira

Desde 2011, com a agressão da NATO, capitaneada pelos Estados Unidos, que se multiplicaram ingerências estrangeiras na Líbia, com consequências nefastas em África, no Mediterrâneo Oriental e na Europa.

Nas últimas semanas, a crise na Líbia agravou-se, com quase certos novos impactos noutras regiões.

No país norte-africano, rico em petróleo, sabe-se, há dois governos rivais, com as suas forças armadas: de um lado o Governo de Acordo Nacional (GAN), com sede em Trípoli e reconhecido pelas Nações Unidas, e do outro um governo paralelo, baseado em Tobruk, no Leste.

Há dias, tropas do general Khalifa Haftar, chefe do exército ligado a Tobruk, avançavam em direcção à cidade de Misrata, no Oeste líbio, santuário de milícias islamitas que suportam o executivo de Trípoli. Haftar prometeu «expulsar» da Líbia o GAN, com influência da Irmandade Muçulmana, e as milícias suas aliadas, qualificando-as de «escória islamita».

O enviado da ONU para a Líbia, Ghassan Salame, denunciou entretanto as «flagrantes violações do embargo de armas», apesar do compromisso assumido na reunião em Berlim, em 19 de Janeiro. Terão chegado a aeroportos do Leste e Oeste numerosos voos para fornecer às forças beligerantes «armas avançadas, blindados, assessores e combatentes». Embora não tenham sido referidos nomes, sabe-se que, além de outros países, a Turquia apoia o GAN e o seu dirigente, Fayez Sarraj, e o Egipto as forças de Haftar.

Na cimeira de Berlim participaram dirigentes dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança (Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido), da Alemanha, Egipto, Turquia, Argélia, República do Congo, Emiratos Árabes Unidos e Itália, assim como altos representantes da ONU, União Europeia, Liga Árabe e União Africana. Estiveram também presentes Sarraj e Haftar, mas não se encontraram. As decisões saídas do encontro, além do apelo à manutenção do frágil cessar-fogo e à busca de uma solução política, resumiram-se à reafirmação do embargo de armas – violado pouco depois – e a criação de um comité militar para monitorizar as tréguas no terreno.

Antes de Berlim, Sarraj e Haftar deslocaram-se a Moscovo, por iniciativa da Rússia e Turquia, mas não chegaram a qualquer acordo.

Já depois da cimeira na Alemanha, o presidente turco, Recep Erdogan, visitou a Argélia – com mil quilómetros de fronteira com a Líbia – e manteve conversações com o seu homólogo argelino, Abdelmadjid Tebboune. Os argelinos querem manter-se «equidistantes» em relação aos beligerantes e rejeitam «toda a ingerência estrangeira».

Precisamente o contrário da posição da Turquia, que apoia o GAN politicamente e com armamento e enviou para Trípoli «assessores militares». E terá facilitado, com o apoio de Washington, a «transferência» de centenas de terroristas da esfera da Al-Qaida e do «Estado Islâmico» da Síria para a Líbia, para ajudar Sarraj.

Enquanto a União Europeia adiou para Fevereiro decisões sobre a Líbia – o agravamento da crise poderá provocar nova vaga de refugiados –, a França, um dos países mais implicados na destruição do Estado líbio, mostra-se «preocupada», consciente de que a guerra na Líbia é inseparável da situação no Sahel e na bacia do Chade, onde Paris intervém militarmente.




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