Abdelmadjid Tebboune: «A Argélia não é uma reserva de caça da França»
O presidente argelino Abdelmadjid Tebboune recebeu em Argel, na semana passada, o ministro francês dos Negócios Estrangeiros, Jean-Yves Le Drian.
Numa entrevista a jornalistas de meios públicos e privados, no dia 22, a primeira desde a sua eleição, Tebboune, comentando as relações argelino-francesas, apelou ao «respeito mútuo» e advertiu contra uma eventual interferência da antiga potência colonial.
«A Argélia, com a sua nova geração e direcção, [não aceitaria] qualquer imiscuição ou tutela» da parte da França, precisou. «A Argélia não é uma reserva de caça da França. É um Estado livre que decide sozinho o seu futuro», insistiu. «Os franceses sabem bem quanto somos sensíveis à questão da soberania nacional, sobretudo quando se trata do antigo colonizador», insistiu.
O chefe do Estado argelino fez também alusão às declarações de vários responsáveis franceses algumas semanas depois da emergência do Hirak, o movimento constatário nas ruas da Argélia, há quase um ano. Em Março de 2019, o presidente Emmanuel Macron tinha apelado a «uma transição razoável» quando as autoridades argelinas decidiram adiar as eleições presidenciais, ainda antes de Abdelaziz Bouteflika ter sido forçado pelos militares a demitir-se.
Agora, o novo ocupante do Palácio d’El Mouradia lamentou a existência no governo de Paris de certos grupos de pressão que se opõem à Argélia: «Há em França um lobby que tem um ódio particular à Argélia. (…) E há um outro lobby que se nutre desse ódio para os seus próprios interesses. (…) Aqui, não temos nenhum lobby. Temos os nossos interesses, a nossa dignidade, a nossa independência e a nossa soberania».
Segundo o presidente Abdelmadjid Tebboune, o período de tensão já foi ultrapassado: «Os franceses compreenderam bem isso e decidimos, as duas partes, voltar a página».
A visita a Argel do ministro Le Drian terá marcado o relançamento das relações bilaterais franco-argelinas.