Qual é a pressa?

João Frazão

Duarte Cordeiro, Secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, fala em nome do Governo e do PS. E veio esta semana dizer que o Governo não vê urgência em fazer baixar o IVA na electricidade de 23 para 6%.

O Governo não vê urgência. Nós explicamos.

A electricidade é um bem essencial. Desde 2011, altura em que PSD e CDS, com a desculpa da Troika, fez esse enorme agravamento, onerando em mais de 16% a factura da luz, as famílias portuguesas reclamam por essa reposição. Nestes 8 anos, pagaram, também por essa via, milhar de milhões de euros para o buraco da dívida. DC fala em perder 800 milhões de euros de receita. Não diz, e o jornalista também não lhe pergunta, quantos milhões se perdem em benefícios fiscais.

Mas DC não está preocupado, pois conta com uma ajudinha para continuar a ir buscar aos orçamentos das famílias o alimento com que apazigua a voragem da banca e do capital financeiro.

Diz que, para travar a proposta do PCP, conta com o apoio do PSD que aplicou esse aumento, que o PS na altura contestou. DC diz que assim se evita uma coligação negativa. Haverá algo mais negativo do que negar hoje o que se defendeu ontem, ao lado dos ditos inimigos de sempre, para atacar os mesmos do costume?

Talvez seja de aconselhar DC a perguntar ao seu colega de Governo, João Galamba, as razões por que criticou, justamente, em 2011, esse brutal aumento do IVA. E porque é que o PS escreveu, num Projecto de Resolução na AR, que o Governo optou “pelo caminho mais óbvio e fácil – sobrecarregar ainda mais as famílias portuguesas” ao fazer este aumento.

João Galamba, que era então o porta-voz do PS, é hoje o Secretário de Estado da Energia, lugar onde deveria concretizar o que disse na altura defender.

DC até podia utilizar aquela máxima que se tornou popular e perguntar, “qual é a pressa”? O povo português sabe bem qual é a pressa.




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