Mais protestos no Mali contra tropas francesas

Carlos Lopes Pereira

«Abaixo a França!», «Barkhane fora!», «Stop ao genocídio francês no Mali!», «França, um Estado terrorista!». Estas, algumas das palavras de ordem da manifestação efectuada a 15 de Novembro, na Praça da Independência, em Bamako.

Organizada para apoiar as forças armadas malianas, atacadas no Norte e centro do país por grupos jihadistas, a manifestação de milhares de pessoas transformou-se, como uma na semana anterior, em protesto anti-francês. Outros semelhantes ocorreram nos últimos meses em capitais como Ouagadougou (Burkina Faso) e Niamey (Níger), com os manifestantes a pedir a retirada das tropas francesas dos seus países.

Este sentimento é forte no Mali e no Burkina Faso, onde dezenas de pessoas, militares e civis, morrem todos os meses em resultado da longa guerra, onde cresce o número de deslocados e onde grandes territórios escapam ao controlo do Estado. Agências humanitárias calculam que, no Burkina Faso, tenha havido no último ano centenas de mortes de civis e militares devido a ataques e haja quase meio milhão de deslocados.

No Mali, a contestação à presença militar francesa ressurgiu com vigor após o ataque jihadista, em Outubro, ao quartel de Boulkessi, sob o comando do G5 Sahel, uma força militar de países da região. Morreram ou desapareceram dezenas de soldados malianos.

Tudo isto a par de uma forte presença militar estrangeira: a França interveio no Mali em 2013, com a operação Serval, substituída depois pela Barkhane, actualmente com 4500 efectivos no terreno. Presente também a missão das Nações Unidas, a Minusma, com 15 mil militares e polícias. A União Europeia tem missões militares e civis, com centenas de efectivos, para «aconselhamento» e treino das forças armadas malianas. E há ainda o G5-Sahel, força conjunta de cinco países sahelianos (Mali, Burkina Faso, Chade, Níger e Mauritânia), impulsionada pelos Estados Unidos e França.

A situação no Mali voltou aos media devido à morte de 13 militares franceses, a 25 de Novembro, em consequência da colisão de dois helicópteros, durante uma operação de combate nocturna, no Norte do país, de tropas da Barkhane. Subiu assim para 38 o número de baixas francesas no Mali, desde o começo da intervenção.

Paris rejeita as acusações de que a presença militar francesa no Mali seja para proteger os seus interesses económicos, nomeadamente, a exploração de urânio, tal como no Níger. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Yves Le Drian, afirma que manter a «ajuda militar» ao Mali e a outros países do Sahel é uma questão-chave para a segurança e «inclusivamente a existência» desses estados. E é também importante, garantiu, para a França e a Europa. Já o presidente Macron pediu um «maior compromisso» no Sahel aos seus aliados da NATO.

Em Bamako, o chefe do Estado, Ibrahim Boubacar Keita, face à hostilidade popular anti-francesa, pediu aos malianos para não «morder a mão» dos que vêm «auxiliar» o país. E anunciou a abertura, a 14 deste mês, de um debate nacional visando encontrar soluções para a continuada crise no país.

A oposição democrática manifesta reservas em relação à iniciativa de Keita, fiel aliado da França, e exige medidas de fundo, incluindo uma reforma constitucional e um plano de paz. Paz que passará, necessariamente, pelo fim das intervenções militares e ingerências neocolonialistas.




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