«Será com o reforço da organização do Partido que construiremos os caminhos do futuro»

BEJA Jerónimo de Sousa esteve sábado num encontro de quadros da Organização Regional de Beja (ORBE) e membros das comissões concelhias do PCP a debater, «abertamente e sem constrangimentos de qualquer espécie, a situação do País, o nosso trabalho, mas também as nossas insuficiências e limitações, procurando como sempre procurámos encontrar respostas para as corrigir e superar, mas olhando simultaneamente para as potencialidades».

Um PCP mais forte «é a chave dos combates que temos pela frente»

Coube ao Secretário-geral do PCP abrir os trabalhos de uma reunião em que participaram cerca de 70 quadros da ORBE, membros da sua direcção ou de comissões concelhias, e na qual ao longo de mais de três horas foram realizadas cerca de uma vintena de intervenções.

Lembrando que a iniciativa decorre do «apelo do nosso Comité Central» para «abrir mais um espaço de análise e debate», Jerónimo de Sousa começou por concentrar atenções na conjuntura «muito difícil e de grande exigência» na qual PCP desenvolveu a sua actividade em diversos domínios. Designadamente sublinhando «a poderosa ofensiva que tinha um claro objectivo: tornar o PCP uma força irrelevante na sociedade portuguesa».

«De facto, todo o ciclo eleitoral e o período que o antecedeu foi atravessado por uma intensa ofensiva política e ideológica visando cavar uma drástica erosão da CDU, que chegaram a anunciar antecipadamente como certa».

«Uma campanha movida onde não faltou o recurso à difamação pessoal, à calúnia e à manipulação mais descarada e grosseira», e que teve como propósito nuclear «atingir precisamente a força que teve um papel determinante na recuperação, defesa e conquista de direitos e aquela que se apresenta como portadora de uma verdadeira alternativa ao rumo imposto ao País pelas forças da política de direita», recordou.

Ora, esse objectivo acabou logrado, disse o dirigente comunista, «graças à campanha eleitoral construída com o empenho militante dos membros do nosso Partido e dos activistas da CDU, e à profunda ligação e enraizamento que o nosso Partido tem junto dos trabalhadores e do povo».

Estes foram, de resto, elementos nodais salientados pelo Secretário-geral do PCP para o debate que prosseguiu. E sem deixar de abordar «a situação política diferente daquela que se apresentava há quatro anos», o saldo de benefícios alcançados por acção do Partido e dos seus aliados, o papel e postura dos comunistas no actual quadro político-institucional, insistiu que o reforço da organização do PCP é uma prioridade porque «do seu reforço dependerá a garantia da defesa dos trabalhadores, dos interesses populares e do País».

Um PCP mais forte «é a chave dos exigentes combates que temos pela frente», reiterou, antes de concretizar a necessidade de «prosseguir a acção em curso visando o melhoramento do trabalho de direcção aos vários níveis, a responsabilização de novos quadros e militantes por tarefas e responsabilidades permanentes, a elevação de uma militância mais activa e mais presente nas empresas e locais de trabalho, em particular a acção dos 5 mil contactos com trabalhadores».

Sem descurar outras linhas de orientação como «a entrega do novo cartão, a dinamização da intervenção junto de camadas sociais e sectores específicos, o reforço das organizações locais, o trabalho de propaganda e imprensa do Partido, a garantia da independência financeira do Partido, a realização de assembleias das organizações», referiu, este é o «caminho que precisamos de aprofundar, assegurando uma acção que tenha como preocupação fundamental o conhecimento dos problemas, das aspirações, das reivindicações e do estado de espírito dos trabalhadores e a iniciativa para promover a sua unidade, organização e luta».

A experiência de um Partido com quase cem anos de vida mostra que nos momentos mais duros foi no povo que o PCP encontrou força para resistir e avançar, recordou ainda Jerónimo de Sousa, que depois de um profícuo debate, a encerrar, acentuou a importância de assegurar a independência política e ideológica do PCP por via da sua independência financeira, e reafirmou a centralidade do reforço da organização do PCP, uma vez que «podemos perder representação institucional e não perder o Partido porque temos organização», contudo«podemos perder o Partido se não tivermos organização mesmo admitindo ter representação institucional».

Não é preciso

«inventar a roda»

Pegando nas ideias-força deixadas pelo Secretário-geral, João Dias, deputado do PCP na Assembleia da República eleito pelo círculo eleitoral de Beja, considerou que «as nossas debilidades não foram destapadas por estas eleições». No entanto, é também crucial ter presente não apenas que «nenhum outro partido resistiria como este resistiu [à campanha de intoxicação pública e ao silenciamento ostensivo]», como se impõe persistir em unidade, com mais actividade, enraizamento nos trabalhadores, nas camadas populares, e nas suas organizações.

Apesar das «montanhas movidas» contra o PCP, este resistiu. Esse facto foi igualmente notado por João Pauzinho, responsável da ORBE e membro do Comité Central, que olhando os resultados da perspectiva das potencialidades, lembrou, numa segunda intervenção antes de Jerónimo de Sousa encerrar a reunião, que «em localidades onde há anos o Partido não faz uma reunião, um plenário», não deixa de ser notável o número de votos garantidos, prova da «confiança inabalável que existe no Partido».

Ora, João Pauzinho, no seu primeiro tempo de uso da palavra, pautou-se justamente pela confiança, frisando aspectos não menosprezáveis como um partido comunista «que vê à sua volta as forças do capital esmagando todos os que lhe façam frente», estar tanto mais próximo de «resistir e avançar» se «não se deixar isolar», se for «para junto dos trabalhadores organizando-os, mobilizando-os, dando-lhes uma perspectiva de que é necessário e possível uma vida melhor, e que a realidade em que vivemos pode e deve ser transformada».

Naturalmente, que não deixou de apontar deficiências como a dificuldade em cumprir a orientação de que os militantes em idade activa devem estar organizados por empresa ou local de trabalho, ou como a retracção em abordar para a militância amigos que connosco estão em várias batalhas. Ou ainda dificuldades que se traduzem em não dar a um novo militante uma tarefa concreta, ou das organizações em responder com rapidez e eficácia a fenómenos emergentes de sobre-exploração e prejuízo claro para as populações.

De resto, João Dias Coelho, membro da Comissão Política, também considerou que «às vezes ficamos parados, paralisados com as dificuldades, as insuficiências, esquecendo as possibilidades e potencialidades (de intervenção e organização]». E insistindo numa concepção de militância e relação com Partido, de método e estilo de trabalho colectivo, advertiu que «os membros das concelhias não são conselheiros». O que se aplica a todos os organismos, onde não se pode entender que «realizada a reunião, o trabalho está feito. Não! É preciso ver quem fica responsável pela execução das tarefas, é preciso que cada organização, partindo da análise sobre a situação nacional, observe a realidade na empresa e na localidade, defina as tarefas e avance na sua concretização.».

Está nas nossas mãos

Identificação rigorosa, séria, mas sem derrotismos, e pelo contrário evidenciando vontade em superar as insuficiências e erros, perpassou aliás pelo conjunto do debate ocorrido no Encontro de Quadros da ORBE.

Fosse quando João Narciso lamentou a existência de militantes em empresas e locais de trabalho sem que a isso corresponda uma célula comunista, para logo em seguida manifestar as possibilidades de «resistência, unidade e desenvolvimento da luta em torno de questões políticas» (o que no caso das questões relacionadas com a Educação também sucede, aflorou Manuel Nobre); fosse quando uma jovem militante da JCP registou um quadro de obstáculos impostos pela ideologia dominante e a política de direita, mas mostrou saber que «100 trabalhadores à porta de uma empresa, ou cem estudantes à porta de uma escola fazem mais mossa ao capital do que uma petição com mil assinaturas»; fosse ainda quando António João Zacarias observou que perante a ofensiva contra o serviço Nacional de Saúde há reais potencialidades de a travar quanto mais depressa organizarmos os profissionais (no caso no Hospital de Beja) e conduzirmos as populações a que «tomem nas suas mãos a defesa do SNS».

Noção dos problemas e determinação em resolvê-los que, na boca de André Linhas Roxas se expressou num «sejamos rigorosos e objectivos mas saibamos que o nosso lugar é eterno, as nossas causas as mais nobres, e por isso não vamos desaparecer»; que a camarada Graça Osório traduziu num forte apelo a resolver «coisas que só dependem de nós», como manter os princípios estatutários do pagamento da quota (isto é, sem ser necessário que alguém no-la cobre e num valor indicativo na ordem de um por cento do salário), ou a leitura e difusão da imprensa partidária.

A importância do Avante! como instrumento na batalha das ideias, na motivação e mobilização do povo foi um dos aspectos consensuais, sem que isso signifique que não subsista e até se tenha relevado a necessidade da sua melhoria enquanto ferramenta (como o fez, por exemplo, Aníbal Carocinho). Como consensual foi a consciência da necessidade de dar passos substantivos no contacto directo, informação e esclarecimento, «que não dependem de ninguém se não de nós mesmos», como disse Tomé Pires.

Nas nossas mãos, ainda, o reforço do PCP entre os trabalhadores nas empresas e locais de tralho, «tarefa de todo o Partido», como bem lembrou Miguel Violante, essencial para «conhecer e organizar a luta»; ou a assimilação por todos de que «não basta ir à reunião de 15 em 15 dias», importa «apurar os problemas e aspirações» populares, assim como «fazer o controlo de execução das tarefas atribuídas», como aludiu Maria José Borralho.

Tudo questões de «organização do Partido». E «tendo organização, temos condições para ir junto dos trabalhadores e envolvê-los na acção política. Sem organização, não temos», como concluiu a camarada Carolina.

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«Esperávamos ter outro resultado eleitoral porque o merecíamos tendo em conta a intervenção que o Partido teve ao longo desta legislatura, e que foi decisiva para a melhoria da vida das pessoas».

João Dias

«A independência política do Partido depende da sua independência financeira. Não temos nenhuma “tia rica”. E se tivéssemos desconfiávamos».

João Pauzinho

«Cada um de nós tem de se sentir à vontade, em todos os momentos, para expressar a sua opinião. Mas também tem de ter disponibilidade para incorporar a reflexão dos outros».

João Dias Coelho

«Em muitos casos temos camaradas em empresas e locais de trabalho mas não temos lá Partido, célula a funcionar, a intervir».

João Narciso

«Cem trabalhadores à porta de uma empresa ou cem estudantes à porta de uma escola fazem mais mossa ao Capital do que uma petição com mil assinaturas».

Carolina, JCP

«Os militantes do Partido não podem fazer tudo sozinhos. Temos que apelar às populações para que tomem nas suas mãos a defesa do Serviço Nacional de Saúde».

António João Zacarias

«Se eles dizem que juntos são mais fortes, nós unidos somos imbatíveis»

André Linhas Roxas

«Os militantes têm de ter a consciência de que lhes cabe pagar a sua quota. Não podem ficar à espera que venham cobrá-la. O Partido somos todos nós»

Graça Osório

«A ligação aos trabalhadores e a criação ou dinamização das células de empresa é uma tarefa prioritária de todo o Partido».

Miguel Violante

«Temos de fazer o controlo de execução. Caso contrário, as tarefas atribuídas arrastam-se».

Maria José Borralho

«O contacto directo, a informação e esclarecimento não dependem de ninguém se não de nós mesmos».

Tomé Pires

«Com organização, temos condições para ir junto dos trabalhadores e envolvê-los na acção política. Sem organização, não temos».

Carolina




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