Construindo um futuro melhor
«O povo guineense não vai tolerar qualquer subversão da ordem democrática» e a recente crise no país «está ultrapassada» porque é uma «situação inaceitável», garante Domingos Simões Pereira, líder e candidato do PAIGC às eleições presidenciais na Guiné-Bissau.
As eleições, no próximo domingo, 24, são vistas como mais uma oportunidade para o estabelecimento da normalidade constitucional num país que tem vivido, desde 1981, períodos de grande instabilidade marcados por golpes de Estado, uma guerra civil, assassinatos de dirigentes e ingerências externas.
Apesar do optimismo de Domingos Simões Pereira, a conjuntura é tensa.
A três semanas da ida dos eleitores às urnas, o presidente da República, José Mário Vaz, que se recandidata como independente, demitiu o governo saído das legislativas de Março, chefiado por Aristides Gomes, do PAIGC, e nomeou um novo primeiro-ministro, Faustino Imbali, de sua confiança.
Tanto as forças democráticas do país como a maioria da comunidade internacional – Nações Unidas, União Africana, Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (Cedeao), União Europeia, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) –, e o próprio Aristides Gomes, opuseram-se à manobra.
A Cedeao reuniu-se em cimeira extraordinária, no Níger, ameaçou aplicar sanções pesadas aos fautores da instabilidade e exigiu a demissão de Imbali, o que veio a acontecer, no que foi visto como uma derrota política do presidente em exercício e com poderes limitados.
Mas outras decisões dos países da África Ocidental não avançaram: a visita a Bissau de uma delegação de chefes de Estado foi adiada e o reforço da força de interposição da Ecomib (tropas de países da Cedeao estacionadas na Guiné-Bissau desde 2012) não foi bem aceite pelos chefes militares guineenses, que têm prometido não intervir no processo eleitoral. Vários candidatos pronunciaram-se também contra o aumento de efectivos da Ecomib, alegando ser «uma invasão de tropa estrangeira». A questão foi discutida entre uma delegação militar de quatro países (Senegal, Níger, Nigéria e Togo) e responsáveis governamentais e das forças armadas guinenses.
A campanha eleitoral decorreu pacificamente, em alguns casos mesmo de modo festivo. O candidato do PAIGC, em comícios muito participados pelo país, procurou discutir ideias com os eleitores e debater diferentes projectos com outros candidatos, evitando acusações e querelas pessoais, conduta que não foi seguida por todos.
Há 12 candidatos e se nenhum conseguir a maioria absoluta no próximo domingo, está prevista para 29 de Dezembro uma segunda volta entre os dois concorrentes mais votados.
O escrutínio será acompanhado por observadores nacionais e internacionais, entre os quais da Cedeao e de outras entidades. A CPLP também enviou uma missão, chefiada por Oldemiro Balói, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros de Moçambique, formada por 23 elementos que já se encontram no país. Propõem-se acompanhar o encerramento da campanha, a votação e o apuramento dos resultados.
Como a campanha eleitoral demonstrou, o povo da Guiné-Bissau e as suas forças democráticas encaram estas eleições presidenciais como mais uma oportunidade para o país reforçar a unidade nacional e prosseguir, em paz, o seu desenvolvimento, construindo um futuro melhor.