Prédeterminação

Manuel Gouveia

Para o imperalismo, nenhuma nação tem o direito à autodeterminação. Há sempre uma condição prévia, sem a qual esse direito nunca será invocado: o interesse imperial.

Quanto o imperialismo pretende libertar uma nação da influência de outra potência, atribui-lhe, mais que o direito a autodeterminar o seu futuro, um futuro já predeterminado, onde uma independência formal vem acompanhada da correspondente base militar e de uma dívida externa a condizer.

Similarmente, se se trata de região já controlada, o direito de autodeterminação é igualmente negado, agora acusando de separatismo, primeiro passo para uma acusação de terrorismo e para legitimar toda a repressão realizada para defender a ordem prédeterminada.

E em todas as situações, o imperialismo tenta virar os sentimentos nacionais contra a necessária união dos trabalhadores de todas as nações.

O resto é a habitual hipocrisia. A Crimeia está sob bloqueio porque exerceu o seu direito à autodeterminação. Em Espanha a opressão abate-se violentamente contra os que lutam pelo direito de autodeterminação na Catalunha ou em Euskadi. O Kosovo continua sob ocupação militar para impor a ordem prédeterminada.

Uma hipocrisia que não é exclusiva do imperialismo e da sua obediente comunicação social: os mesmos que retiram, todos os dias, instrumentos de soberania aos povos de Espanha,  para os depositar aos pés das multinacionais, tentam dirigir todos os lados da luta em torno da questão nacional. Como aliás acontece em Portugal, onde de bandeira na lapela tantos governaram ajoelhados perante as imposições da UE.

Os comunistas unem as tarefas nacionais com as da luta de classes, conscientes de que a plena autodeterminação dos povos levará à Internacional.




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