Alcançado no sector de mercadorias acordo sobre revisão do CCTV

NEGOCIAÇÃO As matérias do memorando de entendimento, subscrito pela Fectrans/CGTP-IN e a associação patronal Antram no dia 14, acrescem ao que já estava inscrito no protocolo de 17 de Maio.

Fectrans e sindicatos vão promover contactos e reuniões de trabalhadores

A reunião realizada ao longo da tarde de 14 de Agosto deu seguimento ao processo de negociação iniciado em Maio, começa por lembrar a Federação dos Sindicatos de Transportes e Comunicações, numa nota que publicou nessa madrugada, a informar que fora construído um documento, denominado “Memorando de Entendimento”, que irá ser discutido com os dirigentes sindicais e trabalhadores. A próxima fase negocial com os representantes patronais tem já data marcada para dia 9 de Setembro.

Melhorias para 2020

Sobre este acordo e notando que ele está em articulação com o protocolo de 17 de Maio, a Fectrans publicou ainda esclarecimentos adicionais, na tarde de dia 15.

No dia 18, a federação respondeu a um artigo de Raquel Varela (Público, 15 de Agosto), com um texto que também é bastante esclarecedor, sobre a situação no sector e os conteúdos em vigor e em negociação.

No dia 20 a Fectrans emitiu um novo comunicado desenvolvendo mais no concreto as matérias onde já se registaram conquistas, realçando que o documento assinado no passado dia 14 entre a Fectrans/CGTP-IN e ANTRAM não é um acordo final mas sim o resultado do avanço de uma discussão aprofundada, nomeadamente nas matérias de expressão pecuniárias para 2020.

Das matérias que constam no memorando de entendimento sobre a revisão do actual contrato colectivo de trabalho (vertical) – designado frequentemente como CCTV de 2018 – e que deverão vigorar a partir de 1 de Janeiro de 2020, abrangendo todos os trabalhadores do sector do transporte rodoviário de mercadorias, a Fectrans destacou:

- «O salário base dos motoristas de pesados passa para 700€, e por força disso é aumentado também o valor do complemento salarial, da cláusula 61ª (no transporte ibérico e internacional esta cláusula passará a ter outra numeração) e do valor do trabalho nocturno. O valor das diuturnidades está neste momento em 17€, por cada 3 anos de serviço até ao limite de 5 diuturnidades. A retribuição base dos motoristas de ligeiros cresce cerca de 6% - 650€ - e o dos restantes trabalhadores não motoristas cresce 4%.»

- Sobre o novo subsídio de operações ficou assente que «os motoristas que manuseiem de forma regular matérias perigosas líquidas e gasosas em cisterna é de 125€ e foi criado também, nos termos do mesmo protocolo, um subsídio similar de 55€ para os outros trabalhadores que realizem cargas e descargas, nos termos das excepções previstas no CCTV.»

- No que diz respeito às ajudas de custo, «Estipula-se um aumento de 4% no geral, instituindo-se o princípio de que o trabalhador do Internacional mantém o valor desta ajuda de custo na íntegra no dia que regressa a Portugal, se não pernoitar na sua residência.»

- Quanto à Cláusula 61, «Passa a ser calculada com uma taxa de 48% sobre a soma do salário base + complemento salarial + diuturnidades (o valor sofre um acréscimo, e passa a ter uma redacção que ajuda a afastar a ideia de que esta cláusula origina qualquer isenção de horário).» e «É reforçado o princípio de que a aplicação da cláusula 61ª tem que estar ligada ao conteúdo da cláusula que limita os tempos de trabalho, ou seja, que nenhum trabalhador é obrigado a prestar trabalho extraordinário de forma regular, nem é obrigado a trabalhar em média mais de 48 horas semanais (já com a inclusão de tempo de trabalho extraordinário), conforme o Decreto-Lei 327/2007, que transcreve a directiva comunitária que impõe um regime especial de trabalho aos trabalhadores móveis.»

- No que se refere ao trabalho nocturno (nacional), «Passa a ser pago fora do âmbito da cláusula 61ª (para os novos contratos) sendo que para os trabalhadores que já se encontram no mercado de trabalho e o recebiam na cláusula 61ª (quer o efectuassem ou não) a sua retribuição não poderá ser reduzida, dada a imperatividade da actual cláusula 82ª.»

- Em termos do gozo dos descansos compensatórios «de trabalho efectuado aos domingos e feriados deve ser efectuado no tempo legalmente previsto no código de trabalho (3 dias)» e «caso o mesmo não venha a acontecer e por acordo entre as partes poderá ser gozado em data a acordar num período de referência (90 dias) ou substituído pelo pagamento do mesmo, mediante acordo do trabalhador.»

- A propósito das refeições «haverá lugar ao pagamento da 2ª refeição após qualquer trabalho realizado depois das 20h00 inclusive.» e «Os trabalhadores que prestarem 4 horas entre as 00h00 e as 07h00, passarão a receber um valor igual ao almoço ou jantar».

- «Está assumida a periodicidade dos exames médicos anuais e a sua especificidade, pagos na integra pela entidade patronal, e está a serdiscutido o valor da cober tura do seguro previsto na actual cláusula 55ª.»

A negociação salarial «para os anos futuros tem como ponto de partida (ou seja, o aumento mínimo) a indexação dos aumentos à taxa de actualização do salário mínimo nacional».

Como adianta a Fectrans, «Ficou reforçado no texto do actual CCTV que não compete ao motorista a tarefa de cargas e descargas (salvo as excepções previstas no CCTV) e, por isso, foi solicitada a intervenção do governo que já reconheceu a necessidade de regular esta questão, de modo a garantir aquilo que está previsto no CCTV, de que “sobre o trabalhador motorista não recai qualquer dever de fazer operações de cargas e descargas de mercadorias”». Nesse sentido ficou acertado, realizar ainda este mês a primeira reunião do grupo de trabalho para a avaliação das condições de carga e descarga nos operadores logísticos e portos marítimos.

Uma portaria que proíbe a circulação, aos domingos e feriados, de veículos de matérias perigosas em cisterna, será publicada pelo Governo até ao fim de Agosto.

Para dia 30, está marcada uma reunião da Fectrans com o ministro do Trabalho, «para discutir os mecanismos de fiscalização do CCTV, nomeadamente por parte da ACT e da Segurança Social». Antes, a 27, haverá uma reunião com a Autoridade Tributária.

«A última palavra», realça a federação, cabe agora aos trabalhadores. Para este sábado, dia 24, estão já convocadas sessões de esclarecimento de manhã, em Oliveira de Azeméis (delegação do STRUP) e na Covilhã (sede da União dos Sindicatos de Castelo Branco), e de tarde, em Alcanena (auditório da CMA, junto ao mercado) e em Setúbal (sede da União dos Sindicatos do distrito). No domindo de manhã, dia 25, a reunião será em Viseu (Casa Sindical).

PCP inteiramente solidário

«O PCP é inteiramente solidário com os trabalhadores do sector de mercadorias e as suas reivindicações», sublinhou o Secretário-geral do Partido, no dia 15.

No almoço-convívio em Monte Gordo (ver pág. 7), Jerónimo de Sousa abordou a greve que decorria no sector, começando por salientar que «assistem aos motoristas de pesados fortes razões», as quais «foram parcialmente atendidas o ano passado, ao fim de quase duas décadas, com a negociação de um acordo colectivo pela acção e luta dos trabalhadores e do movimento sindical unitário», contrato que «algumas entidades patronais não têm respeitado».

Chamou a atenção para «a operação que se desenvolve e as vozes que se vai ouvindo a dar lastro para pôr em causa o direito à greve», «um caminho que vai sendo feito com uma greve decretada por tempo indeterminado, com uma argumentação que instrumentaliza reais problemas e descontentamento dos motoristas» e «cujos promotores não se importam de dar pretextos à limitação do direito à greve».

Este é também «um caminho que o Governo trilha, adoptando medidas – serviços mínimos e requisição civil, entre outros desenvolvimentos – que limitam o direito à greve neste sector e são susceptíveis de uma invocação alargada».

Quanto ao protocolo de dia 14, «com novos avanços no plano dos salários, dos direitos e das condições de trabalho», «é necessário que se finalize as negociações, que os motoristas beneficiem da aplicação desses avanços em 2020, sem prejuízo da negociação para os próximos anos, e que seja garantida uma intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho de modo a combater o desrespeito por parte do patronato dos direitos acordados».

A propósito da «expressão dramática» de um motorista que se dizia «disposto a morrer de pé nesta luta», Jerónimo de Sousa contrapôs que «mais do que morrer, a sua luta deve servir para viver de pé com dignidade e com direitos».




Mais artigos de: Trabalhadores

Serviços mínimos ilegais na greve da RyanAir

ILEGALIDADE Ao decretar serviços mínimos para a greve dos tripulantes da RyanAir, o Governo colocou-se ao lado do patronato, denunciou o PCP, que manifesta a sua solidariedade à luta dos trabalhadores.

Paralisação na Super Bock a 27 e 28

Inicia-se na próxima terça-feira, 27, a greve de dois dias no sector da logística da Super Bock em Leça do Balio. A paralisação dos trabalhadores da Leta, empresa de prestação de serviços que labora em exclusividade para a cervejeira, foi decidida em plenário face à ausência de avanços claros por parte da entidade...

Enfermeiros do Algarve param hoje e amanhã

Enfermeiros de três agrupamentos de Centros de Saúde do Algarve estão em greve hoje e amanhã exigindo o descongelamento das suas progressões. Em nota da Direcção Regional de Faro do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses denuncia-se que a Administração Regional de Saúde (ARS) está a contabilizar de forma errada os pontos...

Greve na Fundação Inatel

Os trabalhadores da Fundação Inatel estiveram em greve no dia 16, reivindicando aumentos salariais, melhores condições de trabalho, reforço do quadro de pessoal e regularização dos horários de trabalho. Na base da paralisação está o reiterado incumprimento, há mais de cinco meses, do Acordo de...