A catástrofe
A ONU publicou o trabalho de um seu colaborador chamado O Apartheid Ambiental.
A tese é simples: com a degradação ambiental resultante das alterações climáticas, o planeta vai desembocar na degradação das condições de sobrevivência, que afectará em primeiro lugar as regiões pobres e os dois a três mil milhões de pessoas que lá vivem.
Adverte-se que as potências económicas começam a pensar (ou já a planear?) medidas que lhes assegurem «os melhores pedaços do planeta» (por assim dizer), onde se encontrarão também as melhores condições de vida. É claro que haverá uma escalada e chegará o tempo em que, mesmo nos países mais «protegidos ambientalmente», surgirá a disputa pelos «melhores lugares» e de novo imperará a força dos donos da riqueza e do poder para se apropriarem dos locais.
A isto chama o estudo da ONU O Apartheid Ambiental, anunciando a catástrofe que se tem de enfrentar.
Anote-se que o apartheid original, inventado pelos racistas sul-africanos, foi uma ignomínia que durou décadas mas foi derrotado e banido por uma exclusiva razão: a luta tenaz e indomável da população negra do país liderada pelo ANC de Nelson Mandela e com o apoio dos comunistas sul-africanos, luta que granjearia solidariedades internacionais e determinaria o derrube desse regime infame.
A aniquilação do apartheid ou, muito antes, a Grande Revolução de Outubro demonstraram que, na História da Humanidade, nenhuma tirania é eterna e sobrevive à imparável luta dos povos pela liberdade e a justiça.
Quanto à previsão catastrófica do Apartheid Ambiental, parte de uma premissa errada – a que considera o capitalismo impenetrável ao devir do materialismo dialéctico. E o que está demonstrado factualmente é que nada escapa a esse devir…
O cinema de Hollywood afina pelo mesmo catastrofismo, onde imperam ficções violentas e apocalípticas com o caos como único destino. Veja-se o filme Elysium, produzido em 2013 (com Matt Damon e Jodie Foster). Nele, a Terra está liquidada pela poluição, existe uma estação espacial gigantesca a gravitar o nosso planeta onde se reproduz a vida e a civilização, se curam todas as doenças e, pois claro, a ela só têm acesso os poderosos e «os escolhidos». O resultado é um herói solitário a sacrificar-se para dar aos excluídos acesso ao «paraíso», que são «apenas» a população do planeta...
Como se vê, a ficção do imperialismo já previu o tal «apartheid ambiental» e a solução que lhe arranjou é pura fantasia.
O que não é fantasia é a luta dos povos para aniquilar, sempre pela luta organizada, a catástrofe do capitalismo. Essa luta está no terreno, tal como a luta contra as alterações climáticas, e a sua intensificação tem de mobilizar todas as forças progressistas.