Dois carrinhos?

Filipe Diniz

Nas jornadas parlamentares do PS Carlos César disse o que lhe vai na alma. Está cansado dos «bloqueios», «constantes dificuldades» e «inércias» com que a actual solução de governo atrapalha o seu partido. Não se queixa do mesmo de cada vez que se entende com o PSD. E esse discurso oriundo do PS da direita teve também o mérito de ressuscitar a já mítica «ala esquerda do PS».

Uma das vantagens da vida política portuguesa é praticamente todos os intervenientes serem conhecidos de ginjeira. Sabe-se portanto o que é o PS e o respectivo currículo de muitas décadas, no qual os últimos quatro anos introduziram alguns elementos contraditórios. Não serão muitos, mas têm a vantagem de ir em sentido contrário àquilo que sempre fez.

Em contrapartida terão dado ao PS o que considerará um precioso trunfo: julga que lavou a cara «de esquerda». E para o PS de sempre, tomando como adquirida essa lavagem, do que se trata agora é de ocupar espaço à direita, trazer para primeiro plano o discurso e o posicionamento político e ideológico do PS partido central da política de direita. O objectivo de maioria absoluta com que o presidente da CIP há mais de um ano simpatiza: «O governo e o PS […] tem condições para melhorar. Não sei se obtendo a maioria absoluta ou ficando perto dela. Se assim for, liberta-se ou de um ou de dois pesos. Talvez o país ganhe com isso» (v. Agostinho Lopes, https://jornaleconomico.sapo.pt/noticias/a-maioria-absoluta-da-cip-378160).

Algumas das personalidades de que se fala a propósito da «ala esquerda» do PS merecem respeito. Mas o principal papel dessa ala tem sido o de cortina de fumo sobre cada nova viragem à direita. Pode o PS querer jogar a dois carrinhos. Muito dificilmente o conseguirá.




Mais artigos de: Opinião

A catástrofe

A ONU publicou o trabalho de um seu colaborador chamado O Apartheid Ambiental. A tese é simples: com a degradação ambiental resultante das alterações climáticas, o planeta vai desembocar na degradação das condições de sobrevivência, que afectará em primeiro lugar as regiões pobres e os dois a três mil milhões de pessoas...

Mais força à CDU não é verbo de encher

Tal como em 2015, o reforço da CDU é a questão central da próxima batalha eleitoral. E não é verbo de encher, é a opção determinante para se avançar no caminho de reposição e conquista de direitos, de construção de uma política alternativa que dê resposta aos problemas dos trabalhadores, do povo e do País e não de se retroceder.

EUA, o Dia chegará..…

O imperialismo norte-americano quer impor ao mundo um domínio absoluto e incontestado. Agora, com Trump e o seu séquito de falcões e fascistas, procura vergar e abater toda e qualquer resistência indo ao ponto de fazer pairar sobre o mundo a ameaça nuclear. É inquietante que os principais países capitalistas, assim como...

Fretes

Neste semeio de preconceito anti-comunista, adubado nas mais das vezes pelo ataque mais directo ao PCP, de que os últimos dias foram férteis, a ambição da deputada do BE no Parlamento Europeu a guindar-se à presidência do GUE/NGL foi cereja no topo do bolo. O caso faz as delícias de quem farejando razões para atacar o...

O PSD e a síndrome do 24 de Abril

A síndrome PSD do 24 de Abril é o conjunto de sinais e sintomas desta patologia crónica e da sua política. E é também uma doença congénita, já existia antes do PSD nascer, nos genes dos «pais fundadores», na simulação liberal da fase terminal do fascismo. Após a Revolução de Abril, fez-se doença crónica e mais agressiva....