Sessão de solidariedade exige devolução à Venezuela do dinheiro roubado pelo Novo Banco
RESISTÊNCIA O ministro venezuelano das Relações Exteriores, Jorge Arreaza, participou na sessão de solidariedade «Devolvam o Dinheiro Roubado à Venezuela», realizada em Lisboa no dia 28.
O Novo Banco é, no mundo, quem retém mais fundos venezuelanos
Há pouco mais de um ano, no mesmo espaço da Escola Profissional Bento de Jesus Caraça, o governante bolivariano tinha participado numa acção de solidariedade, promovida pelo CPPC, regressando agora para a iniciativa da recém-constituída Comissão de Solidariedade Venezuela Soberana. Na intervenção que proferiu em Abril de 2018 alertou para a violenta ofensiva que estaria a ser preparada contra o seu país e no final da semana passada descreveu-a em toda a sua brutalidade: tentativas de golpe de Estado (dias antes fora desmantelada mais uma), desestabilização interna, bloqueio comercial e económico, ameaça de agressão militar.
Detendo-se na questão do bloqueio, que constituía o mote da iniciativa, Jorge Arreaza lembrou que o dinheiro ilegalmente apreendido no Novo Banco e noutras instituições financeiras internacionais não é seu nem do presidente Nicolas Maduro. Pertence, sim, aos trabalhadores e ao povo venezuelano, a quem se destinava: as verbas apresadas destinavam-se fundamentalmente à compra de alimentos e medicamentos e ao pagamento de procedimentos clínicos. O governante bolivariano destacou ainda o facto de 75 por cento da riqueza criada no seu país ser investida em áreas sociais e denunciou a impossibilidade de recurso ao sistema financeiro internacional, em grande medida controlado pelos EUA.
«Os cubanos ensinaram-nos a viver sob bloqueio», afirmou ainda o governante venezuelano, antes de destacar que estão a ser encontradas «válvulas de escape» ao cerco imperialista. A situação económica é ainda difícil, mas melhorou sensivelmente nos últimos meses, garantiu Jorge Arreaza.
E a soberania?
O ministro venezuelano debruçou-se com algum detalhe no relacionamento entre o seu país e Portugal, hoje mais tenso do que noutros momentos. Tempos houve, lembrou, em que era com Portugal que, logo após os governos progressistas da América Latina, a Venezuela tinha laços privilegiados: aliás, recordou, quando o País atravessou um período económico sensível, as autoridades bolivarianas venderam-lhe petróleo a preços mais acessíveis.
Jorge Arreaza, que participara nessa manhã numa reunião com o ministro dos Negócios Estrangeiros português, ouviu Augusto Santos Silva alijar quaisquer responsabilidades do Governo na retenção das verbas retidas pelo Novo Banco, passando-as para a própria instituição bancária e para o Banco Central Europeu. O governante bolivariano garantiu que se algo de semelhante se passasse em sentido contrário, «o Estado venezuelano forçaria a devolução dos fundos ao Estado português».
O ministro venezuelano questionou ainda a legalidade das sanções de que o seu país é alvo, empunhando um exemplar da Carta das Nações Unidas: «onde estão previstas essas medidas?» O carácter extraterritorial do bloqueio – decidido nos EUA e aplicado em Portugal – diz muito também sobre a submissão da política externa portuguesa aos EUA e à UE.
No capitalismo manda o capital
Antes de Jorge Arreaza interveio António Freitas, trabalhador do Novo Banco e dirigente do Sindicato dos Trabalhadores da Actividade Financeira (SinTAF), que recordou o processo que desembocou na criação do Novo Banco, a partir das cinzas do Banco Espírito Santo, e lembrou a injecção na instituição de milhares de milhões de euros de fundos públicos. Em seguida, repudiou a retenção pelo banco dos fundos venezuelanos e o que ela demonstra da natureza do capitalismo, onde é o poder financeiro quem manda.
A apropriação pelo banco de 1,5 mil milhões de euros pertencentes a um Estado soberano por imposição de quem «não tem nenhuma legitimidade sobre Portugal» é inaceitável, concluiu o dirigente sindical.
A sessão foi dirigida por Luís Carapinha, da Comissão de Solidariedade Venezuela Soberana, que denunciou o «ataque de violência inaudita» que está em curso contra o país sul-americano, que, garante, «visa a Venezuela, os amigos da Venezuela e quem defende a amizade entre os povos». Em sua opinião, a guerra em curso contra o país, tendo razões económicas e geo-estratégicas evidentes, visa também apagar da consciência dos povos as conquistas alcançadas em 20 anos de Revolução Bolivariana.
Presente na iniciativa, a embaixadora de Cuba, Mercedes Martínez, reafirmou uma vez mais a inquebrável aliança entre Cuba socialista e Venezuela bolivariana.
Venezuela é «campo de batalha» de disputa global
Jorge Arreaza partiu das questões imediatas para situar a situação que se vive na Venezuela num quadro mais geral. Assim, a opção não é entre Nicolas Maduro e Juan Guaidó, mas entre «um povo que quer ser livre e quer usar os recursos do seu país em benefício próprio e um império que o quer controlar e a oligarquia ao seu serviço». Além disso, acrescentou, não é sequer o Guaidó que conta e decide, mas sim «Bolton, Pence e Pompeo», que estão dispostos a tudo para alcançar os seus propósitos.
«Estamos a tentar construir o nosso próprio sistema socialista», garantiu Jorge Arreaza, lamentando que da parte da oposição golpista não haja esta franqueza de se dizer ao que vem: «defendem o neoliberalismo e não o assumem.»
A Venezuela é um campo de batalha «de uma guerra que se trava no mundo pela manutenção da hegemonia planetária dos EUA, que está a ser posta em causa», garantiu o ministro venezuelano. É uma «disputa histórica» que tem lugar igualmente noutros pontos do mundo, afirmou
Novo golpe derrotado
Na sessão de dia 28, o ministro Jorge Arreaza revelou que, dias antes, tinha sido derrotada uma nova tentativa de golpe de Estado contra as autoridades legítimas do seu país. A intentona, em que estavam envolvidos atiradores israelitas, visava assassinar o presidente Nicolas Maduro e a sua esposa, o vice-presidente do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV) Diosdado Cabello e o presidente do Supremo Tribunal Maikel Moreno.
O anúncio de mais este golpe foi feito no dia 27 pelo ministro bolivariano da Comunicação, Cultura e Turismo, Jorge Rodríguez, que mostrou gravações e outros materiais que envolvem Juan Guaidó e o presidente colombiano Ivan Duque.