A não ser a guerra

António Santos

O Senado dos EUA aprovou, na quinta-feira passada, o maior orçamento militar de sempre: 750 mil milhões de dólares para 2020. Mas este não é só o maior orçamento para a guerra da história estado-unidense, que absorve já 60% de toda a despesa federal. É, de longe, o maior do mundo: no envelope bélico de Trump cabem cinco orçamentos de Defesa da China, 12 da Rússia e 326 de Portugal.

Na mesma semana, em que o Senado autorizou a administração Trump a desenvolver novas armas nucleares tácticas e rejeitou um decreto que impediria Trump de atacar o Irão sem a aprovação do Congresso, um novo estudo demonstrou que «43 por cento dos estado-unidenses são trabalhadores empregados que não conseguem pagar as necessidades da vida moderna; habitação, alimentação, custos associados aos filhos, saúde, transporte e um telemóvel».

O fabuloso orçamento bélico aprovado pelo Senado tem ainda de passar pelo crivo da Câmara baixa, controlada pelo Partido Democrata, formalidade que, a julgar pelo voto favorável de 39 senadores democratas (Bernie Sanders e Elizabeth Warren ausentaram-se convenientemente), não tirará o sono a Trump. A guerra continua a ser, entre democratas e republicanos, a principal fonte do proverbial «consenso bipartidário» que delicia os eternos pânditas da democracia americana: os republicanos pediam 750 mil milhões para a guerra, enquanto os democratas «só» queriam dar 733 mil milhões. Eis a pluralidade democrática em todo o seu esplendor.

Ambas as tendências do partido único, ou unicamente bicéfalo, do capital estado-unidense compreendem ainda que, para além de todas as suas dissensões e contradições, comungam de um interesse comum: atrasar, por todos os meios militares, o declínio da sua hegemonia económica.

Escrevendo sobre a competição entre a Alemanha e a Inglaterra, na obra Imperialismo, Fase Superior do Capitalismo, Lénine perguntava-se «no terreno do capitalismo, que outro meio poderia haver, a não ser a guerra, para eliminar a desproporção existente entre o desenvolvimento das forças produtivas e a acumulação de capital, por um lado, e, por outro lado, a partilha das colónias e das esferas de influência- do capital financeiro?». Um século mais tarde, o capitalismo continua sem outros meios, «a não ser a guerra».




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