Solidariedade soma força à luta dos povos da América Latina
RESISTÊNCIA Numa sessão realizada dia 6 na Casa do Alentejo, em Lisboa, o CPPC deu uma vez mais voz à solidariedade com os povos da América Latina na sua luta pelo progresso social e a soberania nacional.
O imperialismo não conseguiu separar Cuba e Venezuela
Na América Latina é particularmente visível a relação directa entre a soberania nacional e o progresso social. O que a História mostra, aí com particular clareza, é que a emancipação social dos trabalhadores, das comunidades indígenas e, em geral, dos povos está intimamente ligada à sua libertação do jugo colonial e imperialista. A dominação externa, essa, é – sempre foi – sinónimo de atraso, opressão, obscurantismo.
O violento ataque lançado pelo imperialismo contra os povos da região e, em especial, contra Venezuela e Cuba, revela-o com particular clareza. Na generalidade dos países do vasto subcontinente, as oligarquias são, como sempre foram, aliadas (ou, melhor dizendo, serventuárias) do poderoso vizinho do Norte, que já assumiu explicitamente a sua vontade de retomar a Doutrina Monroe, que no séculos XIX e XX tornou a América Latina no seu pátio traseiro.
Disto falaram em pormenor, na Casa do Alentejo, os embaixadores da Venezuela e de Cuba em Portugal, respectivamente Lucas Rincón e Mercedes Martínez. Ao seu lado, na mesa da sessão, esteve a presidente da direcção do CPPC, Ilda Figueiredo, que reafirmou a importância da solidariedade internacional, como a que ali se expressou, para o êxito da luta dos povos latino-americanos pelo progresso e a soberania. Entre as centenas de pessoas que, apesar do mau tempo, encheram o salão, encontrava-se um representante da embaixada da Federação Russa.
Resistir a todas as ofensivas
O diplomata bolivariano dedicou parte da sua intervenção a desmontar aspectos centrais da ofensiva mediática contra o seu país, componente determinante do ataque político, económico e diplomático liderado pelos EUA. E rejeitou, desde logo, a visão da República Bolivariana da Venezuela como um país isolado internacionalmente.
Não só 75 por cento dos países do mundo reconhecem Nicolás Maduro como presidente legítimo como dos 10 estados mais populosos do mundo só dois – EUA e Brasil – apoiam Guaidó. As sanções impostas pela administração norte-americana e seguidas pela União Europeia e pelo Grupo de Lima, que agrega países latino-americanos com governos de direita, são rejeitadas igualmente por vários estados e organizações, como o Movimento dos Não-Alinhados ou a Comunidade de Estados Caribenhos (Caricom). Sobre a posição da «comunidade internacional» não restarão, pois, quaisquer dúvidas.
O general Lucas Rincón recordou ainda a legitimidade do presidente Maduro, eleito em Maio de 2018 (num escrutínio antecipado a pedido da oposição) pelo voto de mais de seis milhões de venezuelanos, ou seja, 67,8 por cento dos votos expressos. A eleição, recordou ainda, não foi contestada por ninguém senão oito meses depois, em plena preparação do golpe de Estado encetado no início deste ano.
Para o embaixador venezuelano, o bloqueio económico e financeiro lançado e executado pelos EUA contra o seu país visa desmantelar o modelo social bolivariano, apostado na «repartição justa da riqueza nacional». Foi este objectivo que presidiu às sanções aplicadas pelo ex-presidente norte-americano Barack Obama, agravadas agora ao extremo pela administração Trump. Não terão êxito, garantiu.
Lealdade acima de tudo
«A traição não é opção», afirmou por seu lado a embaixadora de Cuba, Mercedes Martínez, garantindo que a solidariedade do seu governo com o «presidente Maduro, a Revolução Bolivariana e a União Cívico-Militar não é negociável». A diplomata explicou assim, com o apego aos princípios da política externa cubana, a recusa em ceder aos «presentes envenenados» com que o imperialismo norte-americano tentou quebrar a ligação entre os dois governos revolucionários da América Latina.
Como represália, denunciou Mercedes Martínez, foi agravado o bloqueio norte-americano contra o seu país, que tem como único propósito «sufocar a economia e o povo cubanos». Apesar dos custos elevadíssimos que o bloqueio comporta para a ilha socialista, a opção da Revolução é, como até aqui, a de resistir, dando continuidade à decisão tomada em Janeiro de 1959: «pátria ou morte! Venceremos!».
A embaixadora cubana desmentiu ainda a acusação de que Cuba intervém militarmente na Venezuela, garantindo que os milhares de cubanos que estão nesse país trabalham no sector social e em particular na saúde. Esta mentira, difundida pelo imperialismo através dos meios de comunicação que domina, visa abrir caminho à agressão militar contra a pátria de Bolívar e Chávez.
Antes da embaixadora (que chegou à Casa do Alentejo já com a sessão a decorrer devido aos efeitos da depressão «Miguel») interveio Javier Levy, da delegação diplomática cubana em Portugal, para quem a actual administração norte-americana representa os sectores «mais agressivos e reaccionários do imperialismo» e tem como «servos na América Latina» políticos como Jair Bolsonaro, Maurício Macri e Lenine Moreno.
Solidariedade recíproca
Convidados a intervir foram, ainda, Rafael Reis, do núcleo de Lisboa do PT do Brasil, e o refugiado colombiano Hector Mondragon. O primeiro acusou o actual governo do seu país de pretender destruir tudo o que foi alcançado pelos governos progressistas de Lula da Silva e Dilma Rousseff e destacou as poderosas lutas em curso, em defesa da educação e do direito a uma reforma digna. O jovem realçou que hoje o Brasil também precisa de solidariedade, a mesma que nunca negou a outros países irmãos, como Cuba e Venezuela.
Já o activista colombiano lembrou os milhares de líderes sociais do seu país que foram assassinados pela «democracia» que rege a Colômbia, muitos mais do que os que pereceram às mãos da ditadura de Pinochet e Videla, no Chile e na Argentina. Desde a assinatura do processo de paz, mais de 200 antigos guerrilheiros das FARC foram assassinados, informou.
Hector Mondragon afirmou ainda que a Colômbia é a «principal base de ataque dos EUA contra a Venezuela» e que o paramilitarismo que há muito sangra o seu país está a ser exportado para estados vizinhos, como o Brasil.
Eduardo Fonseca e Augusto Fidalgo deixaram igualmente os seus testemunhos, em nome da Comissão Venezuela Soberana e da Associação de Amizade Portugal-Cuba.
Ao contrário de outras iniciativas similares realizadas naquele mesmo espaço, esta teve lugar num momento particularmente crítico para a região, marcado por uma violentíssima ofensiva imperialista. O que não mudou foi a determinação dos povos em avançar, testemunhada uma vez mais pelos seus representantes diplomáticos, e a solidariedade dos que, em Portugal, defendem uma América Latina soberana e progressista, essencial para a construção de um mundo de paz e cooperação. Venceremos!