Zangam-se as comadres...
Os EUA detêm quase 40% do milionário mercado mundial de exportações de armamento que, segundo dados do próprio Departamento de Estado norte-americano, estará avaliado em 150 mil milhões de euros ao ano. Segundo dados de um relatório do Governo francês, divulgado na passada terça-feira, em 2018 as exportações de armamento francês aumentaram 30%. É sabido igualmente que a Alemanha é actualmente um dos grandes exportadores de armamento e que tem vindo a aumentar exponencialmente os seus gastos militares nos últimos dez anos, tal como a Itália.
A acentuada e acelerada deriva militarista da União Europeia, traduzida em medidas como o desenvolvimento da PESCO (Cooperação Estruturada Permanente), a criação do Fundo Europeu de Defesa ou o programado aumento de mais de 1000% nos fundos para o militarismo no próximo quadro financeiro plurianual, decorrem da opção de fundo das principais potências europeias de jogar mais forte no xadrez de cooperação/rivalidade no quadro da NATO.
Mas isso cria fricções entre as potências da NATO. E foi isso que aconteceu no passado dia 22 de Maio numa reunião em Washington entre o Secretário do Departamento de Estado dos EUA para as relações com a Europa e o comité de embaixadores de «política e segurança» da UE. Os EUA lançaram em jeito de ultimato a ideia de que se a UE não aumentar a compra de armamento aos EUA a cooperação militar transatlântica estará em causa. O «patrão» da NATO está irritado porque a União Europeia quer um quinhão maior do milionário mercado de armamento.
A Comissão Europeia apressou-se a negar que haja falta de cooperação entre as indústrias de armamento da UE e dos EUA, reafirmando a complementaridade da política dita de defesa da UE relativamente à NATO. E tem razão. Aliás, basta atentar no objectivo da já referida reunião – «definir as regras do Fundo de Defesa Europeu (FDE) e dos projectos de armamento comuns» – para perceber que por mais que as comadres se zanguem, não deixarão de ser comadres. Entretanto vão-se descobrindo as verdades. E a verdade é que de um lado e do outro do Atlântico o imperialismo aposta cada vez mais na indústria da morte.