«O Estado é bem-vindo no capital dos CTT»

Margarida Botelho

O Es­tado gere mal, é ine­fi­ci­ente, tem cli­en­telas. O Es­tado falha dia, noite e nos in­ter­valos. O Es­tado es­traga tudo onde se mete e devia deixar a so­ci­e­dade civil e a ini­ci­a­tiva pri­vada tra­tarem dos ne­gó­cios. O Es­tado deve re­gular, de pre­fe­rência o mí­nimo pos­sível.

Já todos ou­vimos con­cep­ções destas e as suas di­versas de­cli­na­ções, a pro­pó­sito dos ser­viços pú­blicos, do sector em­pre­sa­rial do Es­tado ou das pri­va­ti­za­ções, apre­sen­tadas como ci­ência in­ques­ti­o­nável.

É por isso que é de­li­ci­o­sa­mente iró­nica a en­tre­vista de Ma­nuel Cham­pa­li­maud, pre­si­dente do grupo em­pre­sa­rial com o mesmo nome e prin­cipal ac­ci­o­nista dos CTT, a quem o Ex­presso do pas­sado fim de se­mana deu o tí­tulo que en­cima este Ac­tual.

«O Es­tado», diz Cham­pa­li­maud, «podia ser um ac­ci­o­nista como qual­quer outro (...) es­tando no con­selho per­ce­beria as di­fi­cul­dades de gerir uma ope­ração como esta e teria de ter uma ati­tude con­sen­tânea. (...) A van­tagem (...) seria a trans­pa­rência e a cri­ação de con­di­ções eco­nó­micas para a sub­sis­tência da ope­ração. Porque de duas uma: ou não querem perder di­nheiro – neste caso dos con­tri­buintes – e pre­o­cupam-se, como qual­quer outro ac­ci­o­nista, em ter uma gestão do ne­gócio sã, ou, se só olharem para o lado do con­su­midor, têm de criar apoios e as­sumir que é um custo que querem su­portar.»

Não é ma­ra­vi­lhoso? Afinal, o tal Es­tado gordo e me­te­diço ser­viria muito bem para «a sub­sis­tência da ope­ração» de Cham­pa­li­maud, desde que con­ti­nu­asse o ca­pital a mandar e o Es­tado se li­mi­tasse a in­jectar di­nheiro. Agora que estão à vista de todos as con­sequên­cias de­sas­trosas da pri­va­ti­zação, ei-los a clamar pela in­ter­venção do Es­tado.

A so­lução de en­terrar di­nheiro pú­blico em em­presas pri­vadas está mais do que tes­tada. Não serve, é er­rada, não se deve re­petir. O que é ne­ces­sário é re­cu­perar o con­trolo pú­blico dos CTT, salvar a em­presa, o ser­viço pú­blico postal pú­blico e uni­versal e os postos de tra­balho.

 



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