Fascismo económico

Luís Carapinha

EUA querem isolar a maior potência económica emergente, a China

A deterioração da relação entre os EUA e a China continua a marcar a situação internacional, acrescentando incerteza e pessimismo às perspectivas da economia mundial, confrontada com a probabilidade de uma nova recessão. Mais de um ano de negociações entre os dois países não estancaram a progressão da guerra comercial, desatada pelos EUA ao abrigo da incomportável America First. Quando a possibilidade de um acordo se afigurava próxima, o agravamento abrupto por Washington, em Maio, das taxas de importação aplicadas à China levou à suspensão das negociações.

A disputa comercial constitui apenas o primeiro manto do choque entre as duas maiores economias do mundo, cujo volume de comércio bilateral em mercadorias e serviços ascendeu em 2018 a mais de 750 mil milhões de dólares, sendo cada um dos dois países o maior parceiro comercial do outro. A Casa Branca não só ameaça agora taxar a totalidade das exportações chinesas, como elevou a parada da confrontação com inauditas medidas discriminatórias, visando a Huawei, o maior fornecedor de equipamentos de telecomunicações do mundo e líder da tecnologia 5G.

O desvelar da guerra tecnológica contra a China, a tentativa de chantagear Pequim e de imposição de vantagens unilaterais a qualquer custo expõem a postura predadora do imperialismo norte-americano e da Administração Trump. Reconhecendo na China um ‘adversário formidável’ à sua hegemonia e auto-direito de excepcionalidade, os EUA apostam tudo na contenção e descarrilamento do desenvolvimento do país asiático.

Pequim reiterou que não transigirá em questões de princípio e um alto-responsável do MNE acusou os EUA de «puro terrorismo económico». O oficioso Global Times vai mais longe, mencionando a influência de personagens como Bannon com o crescimento do «extremismo» na política chinesa dos EUA, classificada como um «género de fascismo económico». São estes sectores, mais reaccionários e ultramontanos, do grande capital dos EUA – de que se faz eco a política de Trump – que recentemente ressuscitaram uma relíquia do maccarthismo e da guerra ideológica contra a URSS, o denominado Comité do Perigo Presente: China. Para os seus estrategas é imperativamente necessário cortar as relações com a China e isolar a maior potência emergente. Mesmo que para tal seja preciso contrariar os interesses de Wall Street e das grandes corporações com negócios com a China...

A arrogância e rudeza da política de Trump dispara em todas as direcções. Aí temos os anúncios recentes das taxas ao México, o fim do regime preferencial da Índia e os recados a Merkel (do Irão à Huawei) na passagem de Pompeo por Berlim. Dentro do sistema, são cada vez mais as vozes que proclamam o fim da globalização. E não afirmou Kissinger, do alto do seu estatuto de perene eminência parda, que Trump marca, sobretudo, o fim de uma época?

No mundo começa a reverberar o maior abalo estrutural desde o fim da URSS. A lógica do grande choque com a China que ameaça perigosamente a paz mundial não se circunscreve ao antagonismo na esfera económica e tecnológica. Abarca crescentemente a política e a ideologia. Talvez um dia, o actual momento venha a ser identificado como um marco do declínio dos EUA e da trajectória regressiva do capitalismo.

 



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«O Estado é bem-vindo no capital dos CTT»

O Estado gere mal, é ineficiente, tem clientelas. O Estado falha dia, noite e nos intervalos. O Estado estraga tudo onde se mete e devia deixar a sociedade civil e a iniciativa privada tratarem dos negócios. O Estado deve regular, de preferência o mínimo possível.

Já todos ouvimos concepções destas e as suas diversas declinações, a propósito dos serviços públicos, do sector empresarial do Estado ou das privatizações, apresentadas como ciência inquestionável.

É por isso que é deliciosamente irónica a entrevista de Manuel Champalimaud, presidente do grupo empresarial com o mesmo nome e principal accionista dos CTT, a quem o Expresso do passado fim de semana deu o título que encima este Actual.

«O Estado», diz Champalimaud, «podia ser um accionista como qualquer outro (...) estando no conselho perceberia as dificuldades de gerir uma operação como esta e teria de ter uma atitude consentânea. (...) A vantagem (...) seria a transparência e a criação de condições económicas para a subsistência da operação. Porque de duas uma: ou não querem perder dinheiro – neste caso dos contribuintes – e preocupam-se, como qualquer outro accionista, em ter uma gestão do negócio sã, ou, se só olharem para o lado do consumidor, têm de criar apoios e assumir que é um custo que querem suportar.»

Não é maravilhoso? Afinal, o tal Estado gordo e metediço serviria muito bem para «a subsistência da operação» de Champalimaud, desde que continuasse o capital a mandar e o Estado se limitasse a injectar dinheiro. Agora que estão à vista de todos as consequências desastrosas da privatização, ei-los a clamar pela intervenção do Estado.

A solução de enterrar dinheiro público em empresas privadas está mais do que testada. Não serve, é errada, não se deve repetir. O que é necessário é recuperar o controlo público dos CTT, salvar a empresa, o serviço público postal público e universal e os postos de trabalho.

 

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