À boleia de Berardo

Vasco Cardoso

O País assistiu, entre o choque e a incredibilidade, às declarações de Joe Berardo perante a Comissão Parlamentar de Inquérito à CGD. O tom jocoso das suas respostas funcionaram como um rastilho para o justo sentimento de revolta de quem não se conforma perante tamanha impunidade. E houve quem não perdesse tempo a tentar encontrar um novo bode expiatório para todos os males da banca, ou, melhor ainda, para todos os males do banco público. Nada de novo! Quantos e quantos empreendedores, não passaram de bestiais a bestas quando deixaram de ser úteis a determinados interesses. Ricardo Salgado é um exemplo recente, mas há mais.

Temos por isso boas razões para temer que o estardalhaço público que ecoou na maioria dos órgãos de comunicação social não tenha propriamente como motivação a responsabilização das forças e opções políticas que permitiram que se chegasse aqui. Berardo gozou com o povo português de uma forma inaceitável. Mas quem privatizou os bancos que Berardo quis comprar? Quem criou as regras e as leis que lhe permitiram colocar todo o seu património a salvo das suas dívidas? Quem aprofundou e desenvolveu a chamada livre circulação de capitais? Quem designou sucessivas administrações da CGD à margem do interesse público? Sobre tudo isto, PS, PSD e CDS assobiam para o ar. Há que salvar o sistema!

Segundo o Eurostat, nos últimos dez anos, foram gastos em Portugal mais de 20 mil milhões de euros de recursos públicos, só para tapar os buracos da especulação e da corrupção na banca. Recursos que foram sistematicamente negados quando se tratou de subir salários, reconhecer direitos, melhorar serviços públicos, dinamizar o investimento. É assim que a União Europeia impõe, com a subserviência conhecida de sucessivos governos. Uma estratégia de concentração monopolista em todos os sectores, com destaque para a banca que de nacional, só lhe resta neste momento a Caixa, essa mesmo que Berardo colocou agora nas bocas do mundo. Porque será?




Mais artigos de: Opinião

Avanços com a intervenção do PCP

O INE divulgou recentemente as Estatísticas das Receitas Fiscais referentes ao período de 1995 a 2018. De acordo com os dados agora divulgados, a carga fiscal (soma das receitas de impostos mais as contribuições pagas à Segurança Social pelas empresas e trabalhadores) foi em Portugal de 35,4% do PIB (o 12.º país da UE...

Verdade ou consequência

O interesse que certos sectores nacionais manifestam pela Venezuela no respeitante aos direitos humanos é deveras sui generis. Não só a alegada «preocupação» oscila ao sabor das campanhas orquestradas do outro lado do Atlântico, indo de apelos pungentes (quase) a fazer chorar as pedras da calçada à mais completa...

Portas adentro

Nos preparativos para derrubar Muammar Kadafi em 2011, a coberto de mais uma «primavera árabe» operacionalizada pela NATO e com os EUA à cabeça, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, declarou pretender para a França «um terço do petróleo líbio». Ignoramos que petróleo a França obteve da Líbia, mas o que sabemos é que o...

Dia 26, com a CDU para avançar

A síntese, plena de significado, que a expressão «avançar é preciso, andar para trás não» encerra ganhou nos últimos dias inegável actualidade e uma mais clara percepção do que representa enquanto opção e objectivo.

Nova Nakba?

Nos 71 anos da Nakba, a limpeza étnica que acompanhou a criação do Estado de Israel, adensam-se nuvens negras sobre a Palestina, o Irão, e não só. Os falcões da guerra estão ao ataque. Os governos dos EUA e Israel rasgam ostensivamente todos os acordos, as resoluções da ONU, a legalidade internacional. Os EUA deitaram...