Portas adentro
Nos preparativos para derrubar Muammar Kadafi em 2011, a coberto de mais uma «primavera árabe» operacionalizada pela NATO e com os EUA à cabeça, o presidente francês, Nicolas Sarkozy, declarou pretender para a França «um terço do petróleo líbio».
Ignoramos que petróleo a França obteve da Líbia, mas o que sabemos é que o regime encabeçado por Kadafi foi deposto pelas armas, o dirigente líbio foi assassinado com grande barbaridade e a coberto de uma guerra civil que nunca mais parou, o país e o seu povo estão destroçados, há milhões em fuga e, de índices de desenvolvimento ímpares no Norte de África (menor dívida pública do mundo, acesso das mulheres à Educação e ao trabalho, direito de voto para toda a gente, etc.), o que hoje temos é uma catástrofe humanitária total, em vez da prometida «democracia» que justificou a barbárie da intervenção militar ocidental.
Estes pormenores e os de outras «primaveras árabes» – que, hoje, o imperialismo esconde com o total apagão do assunto nos meios de comunicação social, que controla – ocorreram sob ordem directa da administração Obama, essa figura incensada pelos media na comparação com a desastrosa administração Trump, o que confirma (como diz Lénine) o carácter sempre predatório e criminoso do imperialismo, independentemente dos presidentes que nos EUA ocupam a Casa Branca: fazem, sempre, todos «o mesmo trabalho» espoliador e belicoso, a nível mundial.
Não esqueçamos que as «primaveras árabes» foram vendidas como «movimentos populares» internos contra os regimes do Norte de África e do Médio Oriente, enquanto a CIA e serviços secretos similares dos EUA e da Europa, além da NATO, organizavam toda a «ajuda» material, humana e logística a grupos terroristas, por sua vez recrutados num caldo de terrorismo e de fundamentalismo islâmicos, e ainda ancestrais tribalismos, tudo manipulado pelo Ocidente com um claro objectivo: apropriar-se do petróleo que jorra na Líbia, na Síria, no Iraque, no Irão e no Médio Oriente em geral.
O imperialismo não dorme nem pára. A invasão do Iraque por George W. Bush fora demasiado grosseira com a desculpa imbecil das «armas de destruição maciça», pelo que houve que optar pelas «primaveras árabes», que lançou o caos e o horror, com dezenas de milhões de pessoas com as vidas destruídas.
São essas dezenas de milhões de pessoas que batem à porta da Europa, cuja liderança tem responsabilidade directa na catástrofe.
Sintomaticamente, esta tragédia para a Europa não faz parte das preocupações de quem manda na União Europeia, obcecados apenas com o paraíso liliputiano da concentração capitalista, que se esforçam por manter e impor.
O imperialismo nunca quer saber, mesmo quando o desastre lhe entra portas adentro.