«Sondagens» e manipulação

Carlos Gonçalves

Desde que existem sondagens (1930) muito se avançou científica e tecnologicamente e também no seu enviesamento, como instrumento de manipulação.

Importa precisar que as sondagens sérias só permitem a previsão aproximada da realidade eleitoral no intervalo de valores da margem de erro. E isto se a inquirição for fiável, se for usado o método aleatório, se a amostra for estratificada – nos planos geográfico, social, etário, de género e de voto anterior –, se a dimensão for adequada e a estimativa de abstenção e distribuição de não respondentes e indecisos for conforme à realidade.

É hoje muitíssimo improvável que o rigor exigível a uma sondagem séria, noticiada de forma isenta, seja compatível com o comando pelo poder económico do poder político e da comunicação social dominante.

Na aproximação a eleições, o «folhetim das sondagens» ganha novos episódios. Muitas têm de ser referidas entre aspas, por manifesta incredibilidade – escassa dimensão da amostra, como nos chamados «painéis», inquirição telefónica, que não garante o “voto” secreto, perguntas que baralham tudo, zero de estimativa de abstenção e distribuição viciada dos não respondentes e indecisos, distorcendo os resultados.

Ainda agora, um responsável da «Pitagórica», sobre uma sondagem da sua empresa, reconheceu que os números da CDU «podem indiciar uma ligeira distorção da amostra». Regista-se a nota (escassa) e é evidente que o facto é intrínseco à lógica da coisa.

Quem determina as «sondagens» mediatizadas são os grandes interesses. O objectivo é a manipulação – «CDU a descer», o resto «tudo a subir» e «PSD mais próximo do PS». Visam a «bipolarização», perpetuar a política de direita e travar o avanço do PCP e da CDU.

Mas os trabalhadores e o povo não se deixam mistificar. Avançar é preciso!




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