«Alterações climáticas» ou capitalismo?

Filipe Diniz

Marx e Engels identificam o impacto de condições meteorológicas e até climáticas em crises do capitalismo. Veja-se por exemplo o que Marx escreve em As lutas de classes em França.

Vem isto a propósito da referência (NYT, 22.04.2019) a um artigo publicado por dois investigadores da Universidade de Stanford: «Global Wealth Gap Would Be Smaller Today Without Climate Change» («Sem as alterações climáticas, o fosso na riqueza global seria menor»).

A notícia do NYT sintetiza: «Estima-se que o fosso entre o rendimento per capita dos países mais ricos e o dos países mais pobres é 25% maior do que seria sem alterações climáticas.» «Entre 1961 e 2000 a alteração climática reduziu entre 17% e 30% o rendimento per capita nos países mais pobres do mundo.» Os países mais ricos e que mais beneficiaram são também os maiores responsáveis pela emissão de gases com efeito de estufa nos últimos 50 anos.

O artigo faz remontar o estudo ao «início da era industrial» mas, vindo de uma universidade dos EUA, não é de admirar que a palavra capitalismo esteja omissa. Porque, representem ou não as questões climáticas os tais 25% do problema, é certamente o capitalismo – em particular a sua fase imperialista – que é o maior responsável.

A rapina e a dominação colonial e neocolonial, a destruição de países que procuram libertar-se são incomparavelmente mais devastadoras. Não foi certamente por questões climáticas que o rendimento per capita da Líbia, que em 1980 era superior ao dos EUA (dados FMI), passou em 2019 a ser 7,2 vezes inferior (id). Partilhando o mesmo clima, o rendimento per capita de Israel passou de 8,5 vezes o da Palestina em 1980 para 14 vezes em 2010 (dados UN).

Não há hoje uma única questão humana fundamental que não exija o combate anti-imperialista.




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