O tema escolhido no último «Prós e Contras» da RTP foi «Quem defende a democracia?», um assunto de indiscutível interesse. Mas mal entrados no programa damos conta de que aquilo de que se ia falar era de «ciber-guerra». Se se assistisse ao resto do programa verificava-se que a questão se iria circunscrever sobretudo ao tema «Vêm aí os russos». Os dois intervenientes que mais se entusiasmaram nesse sentido foram uma professora do ISCTE (Relações internacionais, claro) e um Almirante, que acontece ser nem mais nem menos do que CEMFA.

Em síntese, portanto, a ameaça à democracia vem da «ciber-guerra» e tem origem nos russos e nos telemóveis chineses. Como fez questão de sublinhar a moderadora do programa, porque querem «desmantelar a NATO» e minar o «projecto europeu». Um alegre mundo às avessas, directamente oriundo de um sistema que instrumentaliza e usa da forma mais antidemocrática, agressiva e criminosa os recursos da ciência e da tecnologia.

Estava presente um alto quadro da EDP, que referiu medidas de defesa adoptadas pela sua empresa. Outro interveniente sublinhou o carácter essencial que os meios informáticos assumem em qualquer sistema complexo, por exemplo o da saúde. Falou-se de reais ou imaginárias «ameaças russas» ou chinesas, mas não ocorreu a ninguém mencionar os bem reais sucessivos ataques cibernéticos contra a rede eléctrica venezuelana, realizados a partir dos EUA, que entre outras coisas atingem dramaticamente os serviços de saúde.

Se o programa deu resposta à questão de «Quem defende a democracia?» não foi pelo que foi dito. Foi por ficar claro que os ataques à democracia e aos direitos dos povos vêm também dos que agitam espantalhos e gritam «agarra que é ladrão», a começar pela NATO e pelos seus papagaios.