Em Portugal houve fascismo

«O fascismo é a ditadura terrorista dos monopólios (associados ao imperialismo) e dos latifundiários.»

Álvaro Cunhal, Rumo à Vitória

O povo português esteve submetido a uma ditadura fascista durante 48 longos anos, marcados pela repressão, a exploração, o obscurantismo, a miséria e a opressão. Tal como sucedeu em diversos outros países europeus nos anos que se seguiram à Primeira Guerra Mundial, o fascismo foi a resposta do grande capital ao desenvolvimento do movimento operário, com as suas lutas, reivindicações e aspirações.

O golpe de Estado de 28 de Maio de 1926, chefiado pelo General Gomes da Costa, pôs fim à Primeira República e impôs a ditadura militar: o Parlamento foi dissolvido, os partidos políticos proibidos e as vereações municipais demitidas; instituiu-se a censura à imprensa e as organizações sindicais e democráticas foram severamente perseguidas.

As forças que suportavam a ditadura, e que dela retiravam benefício, viram em Salazar o orientador e organizador do novo regime. Este tomou como modelo as ditaduras de Mussolini e Hitler e procedeu à fascização do Estado, institucionalizada na Constituição de 1933 e no Estatuto do Trabalho Nacional de 1934. A repressão intensificava-se: foram criadas a polícia política (PVDE, PIDE ou DGS), as milícias fascistas (Legião e Mocidade portuguesas) e o Campo de Concentração do Tarrafal; as prisões políticas entretanto criadas enchiam-se de opositores e qualquer expressão de contestação era fortemente reprimida. Milhares de antifascistas, e principalmente comunistas, são presos, torturados, exilados. Muitos foram mesmo assassinados.

Todo este aparelho repressivo serviu a concentração e centralização da riqueza nacional num punhado de grandes grupos económicos: uns poucos amassaram imensas fortunas, enquanto a imensa maioria se via privada de rendimentos dignos, de habitação decente, dos mais variados serviços de saúde ou educação. A emigração massificou-se. Nas colónias, foi instituído o trabalho forçado obrigatório e nos campos do sul do País os latifundiários gozavam de total impunidade.

Internacionalmente, a «neutralidade» apregoada por Salazar não consegue esconder o apoio fiel ao nazi-fascismo na Segunda Guerra Mundial: a morte de Hitler é assinalada com três dias de luto nacional. Perante a derrota dos seus aliados, o fascismo português volta-se para o bloco anglo-americano, que o suporta: em 1949, o regime fascista português está entre os fundadores da NATO.

À aspiração de liberdade dos povos das colónias, a ditadura responde com a guerra colonial – que durante 13 anos ceifou milhares de vidas portuguesas e africanas. O isolamento internacional do País agravava-se dia após dia...


O que foi o fascismo

  • Supressão das liberdades de expressão, reunião, manifestação e associação.

  • Proibição de partidos políticos, da liberdade sindical e do direito à greve.

  • Miséria, fome, degradantes condições de vida, saúde e habitação.

  • Feroz exploração dos trabalhadores, trabalho infantil, salários de miséria.

  • Atraso económico e social, subordinação do País aos interesses de uma minoria de grandes monopolistas e latifundiários e do imperialismo.

  • Emigração forçada (entre 1961 e 1973, milhão e meio de portugueses deixaram o País em busca do trabalho e da liberdade que por cá lhes eram negados).

  • Ódio, censura, repressão, perseguições, prisões, torturas e assassinatos (só entre 1932 e 1952 registaram-se mais de 20 mil prisões políticas).

  • Obscurantismo, segregacionismo cultural, elitismo, analfabetismo, ensino para poucos.

  • Guerra colonial contra povos que lutavam pela sua liberdade e independência (10 mil mortos e 30 mil feridos entre os portugueses e muitos milhares de vítimas entre os povos das ex-colónias).




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