Da resistência à Revolução

«Quem o fez era soldado/ homem novo capitão/ mas também tinha a seu lado/ muitos homens na prisão.»

José Carlos Ary dos Santos, As Portas que Abril Abriu

O levantamento militar da madrugada de 25 de Abril de 1974, dirigido pelos heroicos capitães do Movimento das Forças Armadas (MFA), foi seguido de imediato por um impetuoso levantamento popular. Juntos, soldados e trabalhadores derrubaram o governo fascista, puseram fim à PIDE, libertaram os presos políticos, conquistaram a liberdade e deitaram mãos à obra na construção do País com que sempre sonharam.

Esta singularidade da Revolução portuguesa definiu desde o primeiro momento a sua natureza, confirmada de forma exuberante nas poderosas manifestações do 1.º de Maio de 1974: a classe operária, os trabalhadores, as massas populares e os militares progressistas, unidos naquela que ficou conhecida por Aliança Povo-MFA, foram os protagonistas das extraordinárias conquistas democráticas alcançadas, que transformaram por completo a face do País.

Mas o processo revolucionário iniciado a 25 de Abril não foi fruto do acaso, antes representou o culminar de décadas de resistência e luta. O levantamento operário da Marinha Grande, em 1934; a Revolta dos Marinheiros de 1936; as greves de 1942, 1943 e 1944; o 1.º de Maio de 1962; a conquista das oito horas de trabalho pelo proletariado agrícola; as lutas operárias dos anos 70; as crises académicas e as lutas dos estudantes; as mobilizações pela paz e contra a guerra colonial; os movimentos de unidade antifascista e as suas realizações – foram sementes que germinaram em Abril.

Nesta luta e nesta resistência participaram amplas camadas do povo português e democratas de várias tendências. É justo, porém, destacar o contributo ímpar dos comunistas e do seu Partido, que de forma permanente e combativa organizaram a resistência ao fascismo: foram comunistas a maioria dos presos, dos clandestinos, dos mártires; foi o Partido Comunista Português o único com uma organização de âmbito nacional e com raízes profundas nas massas; foi o PCP o impulsionador das grandes jornadas de luta antifascista e dos movimentos da oposição democrática.

No seu VI Congresso, realizado em 1965, o PCP definiu a Revolução portuguesa como uma revolução democrática e nacional. O processo revolucionário iniciado a 25 de Abril de 1974 confirmou a justeza da análise dos comunistas e o seu papel decisivo no desenrolar dos acontecimentos.

A pujança do movimento democrático influenciou os militares de Abril, eles próprios jovens filhos do povo mandados para África combater por um «império» que nada mais lhes dera que a fome, a miséria e a ignorância e a guerra. A 25 de Abril e nos meses que se lhe seguiram, o povo português, com ou sem uniforme, voltou a ser um só, unido na construção do seu devir.


Luta desde a primeira hora

  • A clandestinidade imposta pelo fascismo obrigou os comunistas a grandes sacrifícios pessoais, em nome da libertação do povo português
  • O PCP realizou quatro congressos na clandestinidade
  • A reorganização de 1940-41 transformou o PCP numa grande força nacional e no principal impulsionador da resistência antifascista
  • Em Fevereiro de 1931 publicou-se o primeiro Avante!, que saiu até ao 25 de 1974 e de então até hoje
  • A 3 de Janeiro de 1960, dez membros do PCP, entre os quais Álvaro Cunhal, evadiram-se da fortaleza de Peniche, a mais segura prisão do fascismo
  • A Revolução de Abril confirmou na prática o Programa do PCP para a Revolução Democrática e Nacional, de 1965





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