Ofensiva desde a primeira hora

«O processo contra-revolucionário viria a demorar mais de 20 anos para realizar os seus objectivos estratégicos fundamentais.»

Álvaro Cunhal, A verdade e mentira na Revolução de Abril

 

Os ataques à Revolução de Abril começaram no próprio dia 25. Agrupadas em torno do general Spínola, as forças reacionárias e conservadoras esforçaram-se desde logo por conter o mais possível o rumo democrático e progressista da Revolução: ao mesmo tempo que tentavam conservar a PIDE e impedir a libertação de todos os presos políticos, o povo e os militares do MFA punham fim à sinistra polícia e devolviam à liberdade quem tanto tinha sacrificado por ela.

Perante o poderoso movimento de massas e os extraordinários avanços que este alcançava, a contra-revolução – que agrupava, mais ou menos abertamente, sectores económicos e militares e, no plano político, o PS, PSD e CDS – a tudo recorreu para travar a democracia que nascia: golpes militares, sabotagem económica, terrorismo, ameaça de intervenção externa (a NATO, é bom não esquecer, fez manobras militares intimidatórias ao largo da costa portuguesa em 1975). A Revolução, contudo, avançou e a 2 de Abril de 1976 foi aprovada e promulgada a Constituição da República Portuguesa, consagrando as principais conquistas alcançadas pelo movimento operário e popular e o MFA.

Foi o primeiro governo constitucional, liderado por Mário Soares (PS), que iniciou decisivamente a ofensiva contra Abril e suas conquistas, institucionalizando a contra-revolução. Seguiram-se outros – do PS-CDS, PSD-PS, PSD, PSD-CDS, PS – com objectivos semelhantes: retirar à jovem democracia portuguesa o seu carácter antimonopolista, anti-latifundista e profundamente popular: as nacionalizações, a Reforma Agrária, os direitos dos trabalhadores, as funções sociais do Estado e as mais vibrantes expressões da democracia participativa foram alvos privilegiados da política de direita ao longo destas mais de quatro décadas. Os meios de que a reacção se serviu para concretizar os seus propósitos foram das revisões constitucionais à adesão à CEE/UE, da submissão ao FMI a cargas policiais contra trabalhadores em luta.

Décadas de política de direita dirigida contra o que de mais progressista Abril alcançou trouxe o País ao estado em que ele hoje se encontra, que os avanços alcançados nos últimos anos não inverte: dependência económica, alimentar, energética e produtiva; submissão política; salários e rendimentos baixos; gritantes desigualdades; elevada precariedade; degradação dos serviços públicos. Longe, muito longe, do Portugal democrático que Abril gerou e mostrou ser possível.

O País a andar para trás

  • Spínola não queria acabar com a PIDE e pretendia manter alguns presos políticos
  • PS, PSD e CDS estão unidos desde o início contra as conquistas de Abril
  • A deliberada liquidação do aparelho produtivo nacional conduziu à alienação da soberania do País
  • As privatizações resultaram no encerramento ou alienação para o grande capital nacional e estrangeiro de importantes empresas nacionais
  • O fim da Reforma Agrária trouxe de volta aos campos do Alentejo e Ribatejo o desemprego e o abandono
  • Sai do País em juros, lucros e dividendos muito mais do que entra em fundos da UE
  • O Estado português já afundou na banca privada muitos milhares de milhões de euros
  • Entre a entrada na União Europeia e 2014, desapareceram 400 mil explorações agrícolas em Portugal
  • Desde que está no euro a economia portuguesa estagnou





Mais artigos de: Em Foco

Os valores de Abril são referências para o futuro

A Revolução de Abril faz 45 anos. Comemorá-la, hoje, é ter presente o significado profundo desse processo libertador; é valorizar as suas conquistas, não esquecendo quem sempre as defendeu e quem desde a primeira hora as atacou; é ter bem claro que foi o povo português o seu grande...

Em Portugal houve fascismo

«O fascismo é a ditadura terrorista dos monopólios (associados ao imperialismo) e dos latifundiários.» Álvaro Cunhal, Rumo à Vitória O povo português esteve submetido a uma ditadura fascista durante 48 longos anos, marcados pela repressão, a exploração, o obscurantismo, a miséria e a...

Da resistência à Revolução

«Quem o fez era soldado/ homem novo capitão/ mas também tinha a seu lado/ muitos homens na prisão.» José Carlos Ary dos Santos, As Portas que Abril Abriu O levantamento militar da madrugada de 25 de Abril de 1974, dirigido pelos heroicos capitães do Movimento das Forças Armadas (MFA), foi...

A Revolução de Abril transformou profundamente o País

«A Revolução de Abril constitui uma realização da vontade do povo, uma afirmação de liberdade, de emancipação social e de independência nacional.»  Programa do PCP Nas primeiras horas do dia 25 de Abril, o levantamento popular que se seguiu ao levantamento militar desencadeado pelo MFA...

Os valores de Abril no futuro de Portugal

«Os grandes valores da Revolução de Abril criaram profundas raízes na sociedade portuguesa e projectam-se como realidades, necessidades objectivas, experiências e aspirações no futuro democrático de Portugal.» Programa do PCP   A destruição das conquistas de Abril e a ofensiva contra os...

Exercício da soberania é condição de desenvolvimento

«Portugal não encontrará as soluções para os problemas que enfrenta no quadro dos constrangimentos da União Europeia que se reforçam e ampliam.» Jerónimo de Sousa, Janeiro de 2019   A Revolução de Abril foi um irreprimível acto de soberania protagonizado por um povo determinado a decidir livremente sobre o seu próprio...