Para onde vai Adolfo?
Adolfo Mesquita Nunes, dirigente do CDS, é o mais recente nome que entrou na porta giratória por onde passam ilustres dirigentes partidários a caminho dos conselhos de administração dos grupos monopolistas. O seu destino será o de administrador não executivo na GALP, seguindo assim as pisadas de outros, antigos e actuais dirigentes, do PS, do PSD e do CDS, que encontram o conforto e a justa recompensa pelos seus préstimos, nos conselhos de administração destas grandes empresas. Não há nada de novo nesta opção. A mesma subordinação, a mesma promiscuidade entre o poder político e o poder económico, marca indelével da política de direita, que temos denunciado ao longo dos anos.
Diga-se de passagem que não seria necessária esta convivência promiscua para atestar do papel que o CDS tem desempenhado ao longo dos anos, enquanto força política ao serviço dos grandes interesses. Relembre-se o que foi a sua intervenção em sucessivos governos, o seu papel nas privatizações de importantes empresas públicas, nas alterações à legislação laboral, na imposição da Lei das Rendas (melhor dizendo, Lei dos Despejos), na consagração de elevados benefícios fiscais para o grande capital, na fragilização dos serviços públicos e na promoção dos grupos privados na área da saúde ou da educação, no ataque à pequena propriedade agrícola, no compromisso com o projecto de integração capitalista na União Europeia. Tudo isso configura um percurso e uma opção de classe, ainda que disfarçada com elevadas doses de demagogia que vão do «partido da lavoura» ao «partido do contribuinte» e coberta por uma comunicação social dominante que traz sempre o CDS nas palminhas das mãos (veja-se, a título de exemplo, a relação do Correio da Manhã ou da TVI com Assunção Cristas e Paulo Portas respectivamente).
AMN poderia ter resistido à tentação das mordomias do conselho de administração da Galp, indo ao encontro de ilustres figuras da direita portuguesa que consideraram inoportuna esta opção. Poderia ficar-se por uma prática mais discreta, porventura na sombra dos grandes negócios onde o tráfico de influências circula a grande velocidade. Poder podia, mas não seria a mesma coisa.