Os louvores

Henrique Custódio

A agência de ra­ting Stan­dard & Po­or's re­solveu subir dois es­ca­lões a Por­tugal e o fo­gue­tório de An­tónio Costa e, so­bre­tudo, de Mário Cen­teno es­tra­lejou nas te­le­vi­sões, re­pe­tindo as ga­ba­ro­lices sobre «o bom ca­minho das fi­nanças pú­blicas» e o «ob­jec­tivo da con­so­li­dação or­ça­mental».

É claro que Cen­teno apro­veitou a bo­leia para ga­rantir também o dé­fice deste ano pró­ximo de 0,2% do PIB, apesar da «do­ação» de mais de mil mi­lhões de euros ao Novo Banco...

O mi­nistro Mário Cen­teno tem for­mação de sobra para saber que a ri­gidez em busca do «dé­fice zero», numa eco­nomia débil como a por­tu­guesa, con­dena o País a uma me­di­o­cri­dade de cres­ci­mento também de nível zero e ar­rastar-nos-á, por largos anos, numa «apa­gada e vil tris­teza» (que Ca­mões nos valha). Sabe-o, pela ci­ência certa que se pre­sume ter apren­dido na Uni­ver­si­dade.

Mais: Cen­teno, como eco­no­mista en­car­tado, tem também a obri­gação de saber que apenas com me­lhores sa­lá­rios (a par com in­ves­ti­mentos na Saúde, no En­sino, na Jus­tiça e na Se­gu­rança So­cial, que pro­duzam bons ser­viços para todos), é pos­sível a uma eco­nomia ca­pi­ta­lista (su­blinhe-se) de­sen­volver-se e pro­gredir «no con­certo das na­ções», como se passou a dizer após a der­rota de Na­po­leão.

Mas no pós-guerra de hoje, pas­sados 74 anos sobre a ren­dição in­con­di­ci­onal da besta nazi em 8 de Maio de 1945, o «con­certo das na­ções» está a des­con­juntar-se di­a­ri­a­mente sob a ba­tuta de Trump e si­cá­rios in­ter­na­ci­o­nais, en­quanto na «Eu­ropa dos mo­no­pó­lios» (como se cha­mava à UE, quando era apenas CEE) os man­dantes do Con­selho Eu­ropeu («es­co­lhidos» e não eleitos, para fa­zerem a po­lí­tica mo­no­po­lista da Ale­manha e cor­re­la­tivos) o que apostam é na ainda maior con­cen­tração ca­pi­ta­lista e no au­mento agres­sivo das des­pesas mi­li­tares. Veja-se a úl­tima pre­tensão da Ale­manha, em con­luio com a França de Ma­cron, de con­cen­trar grandes em­presas e formar oli­go­pó­lios para «en­frentar a con­cor­rência in­ter­na­ci­onal»...

Por outro lado, «a Eu­ropa» que tanto en­canta o pri­meiro-mi­nistro e o PS, con­tinua a sua guerra contra o Brexit, pro­cu­rando impor ao Reino Unido a im­pos­si­bi­li­dade de saída da UE e evitar de­ses­pe­ra­da­mente que tal saída ocorra, pois sabe, também de ci­ência certa, que a saída do Reino Unido cor­res­ponde a me­tade da força eco­nó­mico-mi­litar da ac­tual UE e cons­titui o ruir ir­re­ver­sível do pro­jecto im­pe­ri­a­lista em que trans­for­maram a União Eu­ro­peia.

Quanto à eu­foria ma­ni­fes­tada por An­tónio Costa e, so­bre­tudo, Mário Cen­teno sobre a su­bida de umas vír­gulas no ra­ting é um faz-de-conta em que co­la­boram os man­dantes da UE, apos­tados, nestes tempos de erosão, em mos­trar «su­cesso» na sua po­lí­tica de atar­ra­cha­mento e em louvar o seu tão bem com­por­tado e di­li­gente aluno, que é o Go­verno mi­no­ri­tário do PS. Até nova mu­dança de maré.




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