Quinzena de luta intensa no comércio para exigir salários e direitos

REI­VIN­DICAÇÃO Com uma «tri­buna pú­blica» hoje, em Lisboa, e greves hoje e amanhã em lojas do Lidl e ar­ma­zéns da Sonae e na Via do In­fante, cul­mina uma «quin­zena de luta» na dis­tri­buição e no re­talho.

Com lu­cros mi­li­o­ná­rios, os grandes grupos pagam mal e vi­olam di­reitos

Quatro de­zenas de ple­ná­rios de tra­ba­lha­dores, greves e pro­testos junto a lojas e ar­ma­zéns e em áreas co­mer­ciais de vá­rias ci­dades pre­en­chem o ca­len­dário de ac­ções pro­mo­vidas desde dia 15 pelo Sin­di­cato do Co­mércio, Es­cri­tó­rios e Ser­viços de Por­tugal – al­gumas das quais no­ti­ciámos na edição da se­mana pas­sada.
Para este con­junto de lutas, de âm­bito na­ci­onal, o CESP/​CGTP-IN co­locou o en­foque na grande dis­tri­buição (hiper e su­per­mer­cados e ca­deias de lojas es­pe­ci­a­li­zadas) e no co­mércio a re­talho, com rei­vin­di­ca­ções co­muns: ne­go­ci­ação da con­tra­tação co­lec­tiva, au­mentos sa­la­riais para todos os tra­ba­lha­dores, re­gu­lação dos ho­rá­rios de tra­balho, res­posta aos ca­dernos rei­vin­di­ca­tivos es­pe­cí­ficos e me­lhoria das con­di­ções la­bo­rais e de vida.

Na se­gunda-feira, dia 25, co­meçou uma série de greves de uma e duas horas por turno nos cen­tros lo­gís­ticos da Sonae, na Maia e no Es­pa­danal (Azam­buja). Estas pa­ra­li­sa­ções pros­se­guem até amanhã, 1 de Março, e visam dar força à luta para que o grupo que possui os hi­per­mer­cados Con­ti­nente e ou­tras in­síg­nias res­ponda às rei­vin­di­ca­ções de au­mentos sa­la­riais sem dis­cri­mi­na­ções, va­lo­ri­zação da car­reira de ope­rador de ar­mazém e in­te­gração dos tra­ba­lha­dores com vín­culos pre­cá­rios nos qua­dros efec­tivos. Está igual­mente em causa o di­reito à pausa a meio de um dos pe­ríodos de tra­balho.
O sin­di­cato e os tra­ba­lha­dores cri­ticam o facto de a Sonae re­meter a ne­go­ci­ação de sa­lá­rios para a as­so­ci­ação pa­tronal APED, onde ocupa o cargo de vice-pre­si­dente. No âm­bito do grupo, como em con­so­nância com aqueles que con­sigo do­minam o sector, a Sonae in­siste em apenas ne­go­ciar sa­lá­rios a troco de con­tra­par­tidas, que re­pre­sen­ta­riam perdas im­por­tantes para todos os tra­ba­lha­dores (como a re­dução do valor do tra­balho su­ple­mentar e a im­po­sição do «banco» de horas).

Com uma con­cen­tração, no dia 21, frente à loja do Pingo Doce em Guei­fães (Maia), os tra­ba­lha­dores e o CESP aler­taram os cli­entes e a po­pu­lação em geral para os temas ge­rais da quin­zena de luta, mas também ex­pu­seram pu­bli­ca­mente a si­tu­ação que se vive no es­ta­be­le­ci­mento. Na in­for­mação di­vul­gada à co­mu­ni­cação so­cial, o sin­di­cato re­fere al­te­ra­ções sis­te­má­ticas nos ho­rá­rios de tra­balho, a co­lo­cação de uma câ­mara de vi­gi­lância na área so­cial (de lazer) e a forma como a ge­rente se com­porta com os tra­ba­lha­dores.

Tra­ba­lha­dores da EMEL de­ci­diram con­cen­trar-se ontem, frente aos Paços do Con­celho, en­quanto um seu re­pre­sen­tante in­ter­vinha na reu­nião pú­blica da Câ­mara Mu­ni­cipal de Lisboa, pela ne­go­ci­ação de au­mentos sa­la­riais.

Ac­ções da quin­zena foram agen­dadas para lo­cais de tra­balho de ou­tras em­presas – FNAC, Zara (e Grupo In­ditex), LIDL, Jumbo (Au­chan), Leroy Merlin, Se­a­side, Mi­ni­preço (DIA), E Le­clerc e centro de con­trolo da Via do In­fante (Loulé) – e para zonas de co­mércio re­ta­lhista em Lisboa, Braga, Porto, Fi­gueira da Foz, Gon­domar, Santa Maria da Feira, Aveiro, Cas­cais, Évora e Por­ta­legre.
Hoje, às 12 horas, frente ao centro co­mer­cial Vasco da Gama, em Lisboa, o CESP pro­move uma «tri­buna pú­blica» de âm­bito na­ci­onal, sobre as con­di­ções la­bo­rais e de vida nas em­presas de dis­tri­buição.
Na se­gunda me­tade de Março, uma série se­me­lhante de ple­ná­rios e con­tactos nas em­presas e ac­ções em lo­cais pú­blicos vai abranger o sector so­cial e os ser­viços.

BIC per­segue tra­ba­lha­dores da ex-Ali­coop

An­te­ontem, dia 26, de­zenas de an­tigos tra­ba­lha­dores da ex-Ali­coop e da N&F (Grupo No­gueira), que lhe su­cedeu após a in­sol­vência, des­lo­caram-se de Silves a Lisboa, para exi­girem do BIC (a quem foi en­tregue o BPN, credor da Ali­coop) que pare as co­mu­ni­ca­ções e pro­cessos exe­cu­tivos que lançou abu­si­va­mente desde fi­nais de 2018.
A ini­ci­a­tiva, or­ga­ni­zada pelo CESP, co­meçou com uma con­cen­tração junto à sede do BIC, na Ave­nida An­tónio Au­gusto Aguiar, onde, em ex­pressão de so­li­da­ri­e­dade, es­ti­veram o pre­si­dente do grupo par­la­mentar do PCP, João Oli­veira, e Vasco Car­doso, res­pon­sável da DOR do Al­garve do Par­tido, ambos mem­bros da Co­missão Po­lí­tica do Co­mité Cen­tral.
O sin­di­cato lem­brou que, em 2008, sob ameaça de per­derem os postos de tra­balho, os tra­ba­lha­dores in­ter­vi­eram como fi­a­dores num cré­dito ne­go­ciado pelos pre­si­dentes da Ali­coop e do BPN. As verbas foram re­me­tidas para as contas da Ali­coop, que as­sumiu os cré­ditos e os pagou até à sua in­sol­vência, em 2012.
Nesse ano, também em Março, o BPN foi ad­qui­rido pelo BIC, que ainda tentou res­pon­sa­bi­lizar os tra­ba­lha­dores pelos cré­ditos, com anuência do Banco de Por­tugal, que co­locou os fun­ci­o­ná­rios como «re­lapsos» em todo o sis­tema fi­nan­ceiro. Em Junho de 2013, o BIC subs­creveu com a N&F um «acordo par­ti­cular» e co­mu­nicou a re­gu­la­ri­zação da si­tu­ação dos tra­ba­lha­dores a estes e ao banco cen­tral. Mas não lhes de­volveu as li­vranças as­si­nadas em branco em 2008.
Ao re­clamar os cré­ditos no pos­te­rior pro­cesso de in­sol­vência da N&F, em fins de 2018, o BIC «de­sen­terra abu­si­va­mente as li­vranças e vem pres­si­onar os tra­ba­lha­dores a pa­garem cré­ditos que ele, BIC, acordou trans­ferir para a N&F», ex­plicou o sin­di­cato.
Um re­lato se­me­lhante foi feito pela Câ­mara Mu­ni­cipal de Silves, que no dia 19 emitiu uma nota a ma­ni­festar total so­li­da­ri­e­dade com os tra­ba­lha­dores e a as­so­ciar-se à exi­gência de que o Banco de Por­tugal, a Pro­cu­ra­doria-Geral da Re­pú­blica e o Go­verno re­po­nham de­fi­ni­ti­va­mente a jus­tiça neste pro­cesso.

Razão re­co­nhe­cida

En­quanto de­corria a con­cen­tração, uma de­le­gação foi re­ce­bida por res­pon­sá­veis do BIC, que co­mu­ni­caram ter o banco de­ci­dido sus­pender de ime­diato as exe­cu­ções e não sus­citar fu­turos pro­cessos, du­rante 90 dias, re­que­rendo em tri­bunal que a si­tu­ação seja acla­rada. A in­for­mação foi re­ve­lada pelo CESP, terça-feira à tarde, numa nota em que sa­li­entou que esta de­cisão «re­sulta da de­núncia, da or­ga­ni­zação e da ma­ni­fes­tação de dis­po­sição dos tra­ba­lha­dores para lu­tarem». O sin­di­cato mantém a pru­dência e alerta que os tra­ba­lha­dores não devem as­sinar qual­quer do­cu­mento do banco sem pre­vi­a­mente con­sul­tarem o CESP.

 



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