Em freeente, recuar
«Eu olho muito pouco para aquilo que está ao lado, olho muito em frente. E aquilo que está à minha frente é o PS, são as esquerdas unidas e é um socialismo que eu quero combater em Portugal. O que nós ambicionamos é um dia poder liderar o Governo para podermos ser responsáveis por todas as nossas políticas». Assim falou Cristas em entrevista ao Polígrafo, dia 22, já na ressaca da moção de censura do CDS, que por sua vez foi antecedida por um almoço na associação de amizade Portugal-EUA em Lisboa, onde informou que o seu objectivo eleitoral é libertar o país das «amarras do socialismo».
Quase que dá para ver as palas às arrecuas.
Regista-se a ligeireza com que Cristas mistifica conceitos, classificando de socialismo o capitalismo que efectivamente gere os destinos do País, e como tenta fazer crer que o CDS nada tem a ver com as políticas dos sucessivos governos. Mais, assestando baterias às «esquerdas unidas» e ao «socialismo», Cristas ilude o facto de o seu partido ter estado sempre com o PS e com o Governo nas matérias essenciais e estruturais, seja para impedir um aumento significativo do salário mínimo, seja para proteger banqueiros ou grupos monopolistas, seja para atacar direitos dos trabalhadores na legislação laboral, seja ainda para submeter os interesses do País aos ditames de Bruxelas ou Washington.
Aos amigos dos states Cristas confessou ainda ter ficado «assustada» quando, já ministra (!), foi ler a parte da Constituição respeitante à «questão agrária», que por acaso é sobre política agrícola, e descobriu que «nas mãos de uma maioria de esquerda, ainda mais à esquerda, [a Constituição] é verdadeiramente perigosa». Apoio a mais, mesmo que só no papel, a trabalhadores e suas organizações... Ai que susto!