Ignominioso

Henrique Custódio

Quando o general Colin Powell, secretário de Estado de George W. Bush, mostrava com desenhos animados, «à Europa» no início do século XXI, como Saddam Hussein tinha o Iraque pejado de «armas de destruição maciça», não demorou que o tempo e a História expusessem esta iniquidade, certificando o que já toda a gente sabia: as «armas de destruição maciça» do regime de Saddam eram uma mentira grosseira dos EUA para justificar a invasão do Iraque e o saque do petróleo. Mas do que ninguém fala é da outra iniquidade, a dos dirigentes europeus de França, da Alemanha e do Reino Unido (os poderosos, né?!) a fingir, na altura, acreditarem numa «demonstração» caricatural e sem pingo de consistência, tudo para agradar ao aliado imperial norte-americano. Tal como aceitaram anos depois, sem recriminações e, muito menos, autocensura, a demonstração de que a invasão do Iraque e a execução de Saddam Hussein após «julgamento» foram um criminoso e colossal embuste.

De crime em crime, o imperialismo só pára quando é travado, pelo que aí temos os EUA a repetir, na Venezuela, o inacreditável embuste do Iraque. E, de novo, os EUA mandam às urtigas princípios básicos das relações internacionais, alargando o caminho para o regresso à barbárie no planeta.

Pormenorizemos. A invasão do Iraque ainda se fez sob um pretexto escandalosamente mentiroso (as «armas de destruição maciça»); desta vez, na ofensiva sobre a Venezuela, promove-se a remoção de um Presidente e de um Governo eleitos em eleições escrutinadas presencialmente pelos EUA, acompanhados de vultosa delegação internacional de observadores. Agora, a administração Trump escolheu um fantoche formado na escola secreta da CIA em Belgrado, na Sérvia, e na Universidade George Washington, para se autoproclamar «presidente da Venezuela» a partir da Assembleia Nacional, onde tem assento – uma tal marioneta, que Michael Pompeo, actual secretário de Estado dos EUA, o tratou por «Juan Guido» em vez de Juan Guaidó, quando a ele se referiu nesta ofensiva, fazendo igualmente saber que é intenção da administração Trump «derrubar» também os governos da Nicarágua e de Cuba. Isto está assim, os EUA já ameaçam abertamente «derrubar governos» enquanto a democrática e civilizada Europa, apesar das críticas a Trump, baixa as orelhas aos seus ditames.

Quanto à Venezuela, os EUA somaram ao brutal cerco que impõem ao país, há anos, um golpe aberto na forma de aval ao envio de uma «caravana humanitária» como testa de ponte para uma invasão que Guaidó reclamava. E que não funcionou, para visível desconforto da malta «enviada especial» para cobrir as palhaçadas de Guaidó e C.ia, incluindo televisões portuguesas.

Como sempre, apenas a luta irá travar a ignomínia.




Mais artigos de: Opinião

Venezuela vencerá!

De entre as importantes ilações que se devem retirar dos acontecimentos, ocorridos no último fim-de-semana, em torno da provocação montada pelos EUA contra a República Bolivariana da Venezuela, é o terem posto a nu a incomensurável distância que separa a infame campanha de manipulação e mentira – incluindo a veiculada em...

A guerra psico-mediática

Na guerra imperialista contra a soberania e o povo da Venezuela Bolivariana está em curso uma operação de «guerra psicológica», ditada pelo manual da CIA. Visa mistificar a verdade e criar a realidade alternativa, aterrorizar os trabalhadores e os povos, estuporar a sua moral e resposta e concretizar o domínio e saque da...

Em freeente, recuar

«Eu olho muito pouco para aquilo que está ao lado, olho muito em frente. E aquilo que está à minha frente é o PS, são as esquerdas unidas e é um socialismo que eu quero combater em Portugal. O que nós ambicionamos é um dia poder liderar o Governo para podermos ser responsáveis por todas as nossas políticas». Assim falou...

Abjecta hipocrisia

O eurodeputado do PSD Paulo Rangel foi à Colômbia participar nas provocações contra a Venezuela do passado fim-de-semana: «Tudo o que o PPE, o Parlamento Europeu e eu próprio, enquanto dirigente da maior família política da União Europeia, puder fazer para levar novamente a democracia e a prosperidade ao povo...

Regionalizar, superar assimetrias e desigualdades

Mais de 20 anos após o referendo à regionalização, permanecem as desigualdades no território, elas próprias geradoras de outras desigualdades e injustiças. A desertificação e o despovoamento de amplas zonas do País agravou-se. Há enormes potencialidades que permanecem por aproveitar.