Muita demagogia e nenhuma deontologia
A propósito da campanha de suspeição, calúnia e insulto orquestrada pela TVI e visando atingir o Secretário-geral do PCP não cabe aqui prestar os esclarecimentos disponibilizados pela Câmara Municipal de Loures. Cabe, sim, denunciar a forma como a estação reiteradamente insistiu na violação clara dos mínimos exigíveis a uma informação séria e objectiva.
Ao contrário do que afirma, a TVI não fez qualquer «investigação». Pegou num conjunto de elementos que são públicos e montou uma tese: houve favorecimento na contratação de um prestador de serviços por parte da autarquia de Loures. O problema é que o único facto que sustenta a tese é a ligação familiar com o Secretário-geral do PCP. Como a bota não bateu com a perdigota, a TVI lançou a deontologia às malvas (e com ela o próprio jornalismo) e travestiu-se de justiceira.
Importa dizer que a TVI mentiu repetidamente, sabendo que o fazia. Apesar de, até à emissão da peça, não ter havido qualquer solicitação ou pedido de esclarecimento específico dirigido ao Secretário-geral ou ao PCP sobre a questão (as imagens e declarações utilizadas foram recolhidas à margem de uma iniciativa pública em que o Secretário-geral prestou declarações a vários órgãos de comunicação social), a estação apressou-se a lançar «desafios» para que fossem dados esclarecimentos logo no noticiário seguinte em canal generalista, que foi repetindo ao longo dos dias que se seguiram.
Esses «desafios» eram lançados ao mesmo tempo que a TVI ocultava os factos divulgados publicamente pela autarquia de Loures e que desmentem categoricamente as insinuações lançadas relativamente aos valores e à efectiva prestação do serviço contratado.
A TVI sabia de tudo isto, mas escondeu-o. Sabia que a insinuação de favorecimento não tinha qualquer fundamento que não fosse a ligação familiar. Ao fazê-lo, revelou que o interesse da operação montada era apenas um: visar o Secretário-geral e o PCP.
Pelo caminho, a fúria de quem protagonizou esta campanha levou mesmo a que perdessem as estribeiras. Houve, pelo menos, dois momentos em que os próprios profissionais da estação tiveram que travar intervenções destemperadas feitas em directo por Ana Leal: quando, no Jornal da Uma de dia 18, mostrava documentos em que constavam dados pessoais dos visados, ignorou os apelos da jornalista que apresentava o noticiário para terminar a «cena»; nessa noite, no programa «Deus e o Diabo», teve de ser refreada por José Eduardo Moniz quando dizia que Jerónimo de Sousa tinha a «obrigação de mostrar os relatórios» sobre a execução do trabalho em causa.
Acrescente-se ainda que, procurando uma contradição inexistente, a TVI acusou repetidamente o Secretário-geral de ter criticado, em 2013, a contratação do marido da então ministra das Finanças pela EDP. Pura mentira. Acontece que as declarações citadas são de 2016 e referem-se à contratação da própria Maria Luís Albuquerque por uma empresa que comprou activos a um banco (o Banif) cujo capital era maioritariamente público, como a própria TVI pode confirmar nos seus arquivos.