Impasses e contradições marcam profunda crise da União Europeia
CRISE As decisões do Conselho Europeu de 13 e 14 de Dezembro inscrevem-se no aprofundamento do neoliberalismo, militarismo e federalismo da União Europeia em crise e são contrárias aos interesses dos povos.
O que se impõe é a libertação das imposições do euro e da UE
Não deixando de confirmar impasses e contradições que marcam a actual situação de profunda e arrastada crise da União Europeia (UE), as discussões tidas, as decisões tomadas e os caminhos apontados pelo Conselho Europeu (CE) «inscrevem-se no aprofundamento do neoliberalismo, do militarismo e do federalismo da UE e são contrários aos interesses dos trabalhadores, do povo e do País, e dos demais povos da Europa».
A afirmação é de João Ferreira, deputado ao Parlamento Europeu pelo Partido Comunista Português, numa declaração sobre o CE realizado em Bruxelas.
Em Portugal, o que a realidade do País confirma é a necessidade não de reforçar os graves constrangimentos e imposições associados ao euro e à União Económica e Monetária (UEM), caminho apontado pelo CE, mas sim de «afirmar a soberania e a independência nacional, indispensáveis a um projecto de desenvolvimento soberano e de progresso social, assente numa política alternativa patriótica e de esquerda».
O que se impõe é não a continuação da submissão ao cortejo de imposições orçamentais e macroeconómicas do euro e da EU, geradoras de desigualdades e divergência, mas sim «a libertação do País face a essas imposições e o assegurar dos meios e dos instrumentos necessários para ultrapassar os seus problemas».
A declaração em Lisboa de João Ferreira abordou cinco pontos:
1. Relativamente ao Quadro Financeiro Plurianual 2021-2027, as contradições evidenciadas no CE – que determinaram o adiamento da sua aprovação para o Outono de 2019 –, não põem, contudo, em causa o objectivo da redução das verbas apontadas à «coesão económica e social», designadamente dos fundos estruturais, e do financiamento da Política Agrícola Comum, o que, nos moldes propostos, irá prejudicar, sobretudo, países como Portugal.
A discussão no CE e os trabalhos em curso no PE – de elaboração dos regulamentos dos fundos e programas da UE pós-2020 – confirmam uma opção de orçamento para a UE apontado para «servir os interesses e as prioridades das principais potências da UE e dos seus grandes grupos económicos e financeiros, incluindo com o incremento das despesas militares e de cariz securitário».
Para Portugal, a perspectiva inaceitável que resulta da discussão em curso é a de menos fundos e de mais gravosos condicionamentos para a sua utilização.
O PCP reitera que a proposta de Quadro Financeiro Plurianual da UE para 2021-2027 é inaceitável para Portugal e considera que é crucial manter o princípio da decisão por unanimidade nesta matéria, princípio que alguns procuram colocar em causa.
2. Ao mesmo tempo que se perspectiva uma redução das verbas do orçamento da UE a atribuir a países como Portugal, o CE discutiu o reforço e aprofundamento de dois dos principais motores das crescentes desigualdades e divergência no seio da UE, que prejudicam países como Portugal: o Mercado Único e a UEM/euro.
Os fundos da UE nunca compensaram, nem podiam compensar, os impactos negativos do Mercado Único e da UEM/euro no País. Mas um corte nos fundos da UE e o simultâneo aprofundamento do Mercado Único e da UEM traduzir-se-á, consequentemente, em acrescidos e inaceitáveis prejuízos e dificuldades para Portugal e em maiores desigualdades e divergência no seio da UE.
3. No âmbito da discussão sobre o aprofundamento do Mercado Único, o CE voltou a defender o avanço dos processos em curso de liberalização em diversos sectores, como é o caso da energia e do digital, aprofundando a liberalização do mercado à escala da UE, à medida dos interesses das transnacionais das grandes potências.
O aprofundamento do Mercado Único foi subjugando crescentes áreas da vida económica e social e é indissociável dos processos de liberalizações, privatizações, de ataque aos direitos laborais e outros direitos sociais, aos serviços públicos e às funções sociais do Estado – quadro imposto ao povo português e a Portugal.
Estes são processos – pelos quais PS, PSD e CDS são responsáveis – que devem ser travados e revertidos e não aprofundados.
4. Relativamente ao aprofundamento da UEM/euro – para além de contradições e impasses que voltaram a estar presentes neste Conselho Europeu –, a decisão quanto ao financiamento do Fundo Único de Resolução a partir do Mecanismo Europeu de Estabilidade, apresentado como um passo mais na constituição da chamada União Bancária, demonstra a falácia de que não seriam mais os estados e os seus cidadãos a suportar os custos da especulação do capital financeiro.
Procurando manter ilusões quanto a supostos instrumentos redistributivos (como um «orçamento para a Zona Euro») ou para fazer face aos choques assimétricos, o CE insiste num caminho que inevitavelmente acentua a ingerência das instituições supranacionais da UE na esfera de decisão dos diferentes países e dos respectivos povos.
5. Face ao processo de saída do Reino Unido da UE, o PCP reafirma que a decisão soberana do povo britânico deve ser inteiramente respeitada e reitera que o Governo português deve intervir resolutamente – seja junto das autoridades de Londres, seja na UE – para assegurar a defesa dos direitos dos cidadãos portugueses que trabalham e vivem naquele País e garantir relações bilaterais mutuamente vantajosas entre Portugal e o Reino Unido, respeitadoras da soberania e das aspirações de ambos os povos.