À mercê dos «mercados»

Vasco Cardoso

A confirmarem-se as notícias vindas a público, a Cimpor vai mudar de mãos. Para o grande capital trata-se de mais uma operação em torno de um «activo». Um negócio mais, entre muitos outros, com a compra e venda de empresas, em regra no sentido da concentração monopolista. São os «mercados» a funcionar. Mas para o País é a confirmação de que aquele que já foi o maior grupo industrial português está hoje transformado num joguete nas mãos de interesses que lhe são estranhos .

A derradeira parcela de propriedade pública na Cimpor, detida pela CGD, foi vendida durante o último Governo PSD/CDS, concluindo assim um processo de privatização iniciado em 1994 e que colocou a empresa, e o seu vasto património (que se estendia pelos 5 continentes), nas mãos de um grande grupo económico brasileiro que dá pelo nome de Camargo Corrêa (que por sua vez detém a InterCement que, por sua vez, detém a Cimpor). Os futuros proprietários da empresa, ou melhor das fábricas que a Cimpor detém em Portugal e em Cabo Verde, passarão a ser os turcos da OYAK, um grupo económico que tem como base um fundo de pensões das forças armadas da Turquia.

São três centros de produção de cimento (Alhandra, Souselas e Loulé), uma fábrica de cal hidráulica, uma fábrica de sacos de papel, 12 pedreiras, 2 Unidades Fabris Argamassas Secas, uma Fábrica de Travessas e, pelo menos, 800 trabalhadores directos (fora as centenas de subcontratados) que mudam agora de mãos, a troco de 700 milhões de euros (números a confirmar), sem que se conheçam quais as intenções dos novos proprietários em relação ao futuro.

E não se trata aqui de saber se esta empresa ficaria melhor em mãos brasileiras ou em mãos turcas. O que é relevante é o facto de, na sequência de mais uma privatização – que envolveu governos do PS, do PSD e CDS - feita em nome da excelência da gestão privada e da libertação da economia da tutela do Estado, o País não ter qualquer controlo na produção de uma matéria prima – o cimento – que é estratégica para a construção e reabilitação de edifícios, pontes, estradas, portos e todo o tipo de infraestruturas.



Mais artigos de: Opinião

Qual democracia?

De tudo o que já se disse sobre o resultado das eleições de domingo no Brasil a afirmação mais espantosa é provavelmente a do comissário europeu de Assuntos Económicos, Pierre Moscovici, que atribui o triunfo de Jair Bolsonaro a uma espécie de «cansaço democrático» fruto dos efeitos da crise que deixou «desigualdades...

5000 Contactos: tarefa de todo o Partido. E de cada militante

No XX Congresso, no que se refere ao reforço da organização e intervenção do Partido junto da classe operária e dos trabalhadores, nas empresas e locais de trabalho, decidimos: «Nos próximos anos, a par de medidas a dinamizar de imediato, deve ser concretizada uma grande acção nacional com este objectivo, assegurando a discussão e a adopção de decisões em todos os organismos e organizações do Partido.»

O Bloqueio a Cuba e a liberdade

No dia em que estas linhas chegarem às mãos do leitor a Assembleia-geral das Nações Unidas estará a votar a proposta de Resolução apresentada pela República de Cuba sobre a «necessidade de acabar com o bloqueio económico, comercial e financeiro imposto pelos Estados Unidos contra Cuba», crimeque está prestes a completar...

Dos avanços no Passe Social

O Governo e os 18 municípios da Área Metropolitana de Lisboa decidiram avançar com uma das mais antigas e estruturantes reivindicações do PCP para o desenvolvimento do sistema de transportes públicos: o alargamento do passe social intermodal a toda a região metropolitana, a todos os operadores e a todas as carreiras, com...

Bolsonaro e os seus mandantes

O candidato da extrema-direita venceu as eleições brasileiras. As expectativas de uma «virada», que a dinâmica em crescendo nos últimos dias da campanha democrática autorizava, não se confirmaram apesar do expressivo resultado alcançado pala candidatura de Fernando Haddad-Manuela d`Avila. O processo golpista desencadeado...