O «espectáculo» de fogo e cinzas

Vasco Cardoso

Vastas colunas de fumo, um céu flamejante, um corrupio de sirenes, carros de bombeiros e homens fardados, olhos em lágrimas e gritos de revolta perante a iminência de perder a casa ou os bens resultantes de uma vida de trabalho. A aflição e desespero das populações é captada em directo pelas televisões que reproduzem perante milhões um espetáculo dantesco. A tragédia é servida a quente por uma comunicação social dominante que se entretém à procura da «mão criminosa», que prefere a polémica entre as diferentes forças que intervém no terreno, em vez da procura da causa funda que está na origem de uma catástrofe que a política de direita transformou numa espécie de rotina estival que todos os anos assola Portugal. Sucedem-se as declarações de responsáveis governativos, incluindo as que procuram transformar em êxito e excepção aquilo que se transformou em regra sempre que as condições metereológicas assumem determinado perfil. Os comentários e análises de especialistas e opinadores que saturam as televisões, com honrosas excepções, completam um quadro mediático em que o acessório há muito que substituiu o essencial. Foi assim em Pedrogão e em Outubro do ano passado e assim continuou quando as chamas devoraram durante 8 dias mais de 25 mil hectares na Serra de Monchique.

A política agrícola e o abandono da produção nacional, o eucalipto, os interesses das celuloses e a ausência de ordenamento florestal, os serviços públicos sacrificados no altar do Euro e das imposições da União Europeia, a falta de emprego e de população capaz de cuidar de vastas zonas do território não fazem parte da grelha mediática e percebemos porquê. Tal, significaria o reconhecimento de que é a política de direita que põe o país a arder. De que foram as opções de sucessivos governos do PS, PSD e CDS que transformaram o País num território amigo do fogo e das cinzas. Tal significaria uma avaliação honesta e objectiva que daria razão a décadas de intervenção e luta do PCP.




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