Crimes num barril de pólvora

Ângelo Alves

Com o objectivo Síria dificultado pelas derrotas militares, EUA, Israel e monarquias do Golfo estão cada vez mais articulados numa renovada estratégia de provocação e guerra no Médio Oriente visando manter o seu domínio da região.

A questão palestiniana está num novo patamar de bloqueios e crimes por acção do Estado (agora assumidamente) racista de Israel governado num regime confessional e de Apharteid. Quarta e quinta-feira passadas foram marcadas por bombardeamentos aéreos e ataques de artilharia de Israel contra a Faixa de Gaza. A táctica para os justificar foi a mesma de sempre. Montada que foi uma provocação pelo exército israelita, a reacção do lado palestiniano a essa provocação constituiu-se como o pretexto para Israel ter atingido 150 alvos na exígua Faixa de Gaza em poucas horas. Foram mortos 3 palestinianos, incluindo uma mulher grávida e o seu filho de 18 meses. Terão sido feridas mais de 20 pessoas. Um dos bombardeamentos israelitas destruiu o edifício de cinco andares (que colapsou) onde estava instalado o Centro Cultural al-Meshaal, uma biblioteca e serviços destinados às mulheres egípcias. Já na sexta-feira dois palestinianos foram mortos e 307 foram feridos no tenebroso “ritual” de assassinato de manifestantes na vedação construída por Israel para isolar Gaza do Mundo. Um “ritual” criminoso e tenebroso, que desafia todos os dias a legalidade internacional, e que já fez 159 mortos e cerca de 18.000 feridos desde Março.

Mas os crimes e ameaças no Médio Oriente estão longe de se limitar à Palestina. A estratégia de guerra tem agora como um dos alvos principais o Irão. Com o anúncio de graves medidas de bloqueio económico, Trump subiu para um nível superior as provocações e o perigo de guerra. As repercussões serão várias e complexas. Vão expressar-se num largo arco de relações internacionais que vão desde Pequim até Moscovo, passando, por exemplo, por Ankara, envolvida agora numa guerra comercial com os EUA, e mesmo por Bruxelas, Berlim ou Paris. Entretanto o Irão ameaça com o encerramento do estreito de Ormuz, por onde passa parte considerável do comércio de petróleo mundial e regista-se instabilidade no estreito de Bab al-Mandeb. Por sua vez, a ditadura Saudita intensifica, em articulação directa com os EUA, a guerra contra o Iémen. Foi a Arábia saudita «moderna», onde «as mulheres já podem conduzir», que bombardeou um autocarro escolar, provocando a morte a quase 50 pessoas, na sua esmagadora maioria crianças. Este é mais um dos imensos crimes que a feroz ditadura saudita está, em articulação directa com os EUA, a praticar contra o Iémen, país que vive já uma crise humanitária de dimensões gigantescas e onde, segundo a UNICEF, já morreram mais de 5 mil crianças desde o início da agressão.

Estes acontecimentos demonstram até onde estão dispostos a ir o imperialismo e o sionismo. São ameaças, ilegalidades, crimes atrás de crimes. Crimes e estratégia que deveriam merecer de todos, começando pela ONU uma enérgica reacção e medidas de condenação. É repugnante o modo como os Governos das grandes potências capitalistas e a ONU estão a assistir à loucura belicista e fascizante pejada de crimes que pode a qualquer momento fazer explodir o barril de pólvora do Médio Oriente. O silêncio ou a hipocrisia cairão no pântano tenebroso da banalização e «normalização» da barbárie que se não combatido poderá ter terríveis consequências.




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