Uma loucura de Trump?

Ângelo Alves

A Administração norte-americana anunciou na passada semana a intenção de criar um sexto ramo das forças armadas dos EUA dedicada exclusivamente ao espaço – a chamada «Força Espacial». Coincidência, ou não, o anúncio foi feito no dia 9 de Agosto, o dia em que há 73 anos os EUA lançavam uma bomba atómica sobre Nagasáki. Depois de vários discursos de Trump ao longo dos últimos dois anos, a decisão foi confirmada por Mike Pence, vice-presidente, discursando num acto oficial no Pentágono e logo reforçada no Twitter por Trump. A decisão terá ainda de ser aprovada no Congresso e no Senado.

O assunto merecerá ulteriores análises mais detalhadas. Por agora deixam-se dois apontamentos.

O primeiro é que a militarização do Espaço não é coisa nova para os EUA. Há várias décadas que desenvolvem programas secretos e não secretos nesse sentido. O Pentágono tem, em articulação com a Força Aérea, e para lá das vertentes militares secretas da NASA, o seu próprio programa espacial, com recursos humanos, financiamento, bases, meios e tecnologia militar. A decisão agora anunciada visa na prática tornar oficial, dar visibilidade, atribuir mais recursos e conferir uma orgânica mais autónoma àquilo que já há pelo menos duas décadas foi posto em desenvolvimento.

O segundo é que esta decisão e a sua premeditada visibilidade mediática constitui uma consciente decisão de rasgar formalmente mais um dos tratados de que os EUA são subscritores, o Tratado do Espaço Exterior, assinado em 1967, que fixa o uso de corpos celestiais, nomeadamente da Lua, exclusivamente para fins pacíficos, proibindo o armazenamento de armas de destruição maciça, a criação de bases militares, o teste de qualquer tipo de armas, bem como de manobras militares, no Espaço.

Ou seja, a decisão de anunciar a decisão não é uma «loucura» de Trump. É antes um sinal extremamente preocupante de que os EUA já criaram as condições para iniciar a «guerra nas estrelas» que, a par com a estratégia cá em baixo, pode pôr em causa toda a Humanidade. E isso sim, é uma loucura.




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