Rabo na boca
O PS anda a repetir a mesma cantilena que os partidos da política de direita repetem há largos anos para justificar a sua política de reconstrução do capitalismo monopolista. Podia-se resumir em quatro versos: não temos dinheiro / se queremos investimento / precisamos de privatizar / que os capitalistas é que têm dinheiro.
A coisa não rima mas funciona, como funcionam muitos dos jingles. E é tão falsa como a maior parte deles. Vamos por partes: o País tem dinheiro, muito dinheiro. Podia ter mais claro. Teria mais se as grandes empresas estratégicas continuassem nacionais e públicas. Teria mais se o Estado apostasse numa política de desenvolvimento do aparelho produtivo nacional, substituindo importações e explorando devidamente as riquezas nacionais. Etc. Aliás, basta contar o tamanho e a quantidade dos «nossos» ricos para perceber que a conversa do Portugal pobrezinho só serve para esconder as causas da injusta distribuição da muita riqueza criada.
Atentemos no Orçamento de Estado. Há um superavit de 5 mil milhões, que é transformado num défice pelo pagamento de juros, mas que já antes tinha sido encurtado pelo pagamento de swaps, pelo pagamento de PPP, pelo salvamento de bancos, pelas transferência de lucros para o estrangeiro, pelas isenções fiscais aos capitalistas. É este o dinheiro que não temos: o que entregamos ao grande capital. E depois apresentam-nos como solução a mesma política que nos criou o problema: pedir emprestado ao grande capital, fazer com ele um «acordo» de parceria ou entregar-lhe novos sectores para explorar directamente.
Parece um problema tipo «pescadinha de rabo na boca». Mas na realidade, é mais do tipo do «nó górdio». E desde Alexandre que se sabe como se desatam esse tipo de nós!