(Des)entendimentos
Do Conselho Europeu saíram gravosos consensos
As pressões, incluindo o habitual dramatismo de última hora, não foram suficientes para ultrapassar dificuldades e desentendimentos no Conselho Europeu de 28 e 29 de Junho. No entanto, se seria um erro desvalorizar tal realidade e o que traduz de agudização das contradições na União Europeia, seria igualmente incorrecto minorar o alcance dos gravosos consensos que também ali se verificaram.
Apesar de hermético e cifrado, o que foi dado a conhecer sobre o aprofundamento da «União Económica e Monetária» (UEM) – seja nas divergências (como em torno do «orçamento da zona euro»), seja nos consensos (como em torno da «União Bancária» ou do «Mecanismo de Estabilidade Europeu») – representa uma gravíssima insistência no reforço das políticas de imposição do domínio económico e político das grandes potências e do grande capital transnacional, que estão na raiz das crescentes desigualdades sociais e divergência entre países que integram a UE.
Continuando a acenar com o logro da «convergência» ou a ilusão da «partilha de riscos» na UE, cada novo «passo» no aprofundamento da UEM constituirá um ainda mais asfixiante espartilho à soberania e ao desenvolvimento de Estados – como Portugal –, com o implacável esvaziamento, usurpação e controlo por terceiros de todo e qualquer instrumento soberano de política económica, expondo o País a acrescidas imposições e condicionamentos, a uma situação de permanente saque, de dependência económica, de subalternização política.
Se dúvidas existissem quanto aos benévolos intuitos da «reforma da UEM», as prioridades da proposta de Orçamento da UE para 2021/27 elucidariam um qualquer renitente «crédulo»: menos verbas para a apregoada «coesão económica e social»; mais verbas em função dos interesses dos grandes grupos económicos e financeiros, nomeadamente das grandes potências; mais verbas para a criação de uma dita «polícia de controlo de fronteiras» da UE e para a expulsão e contenção de imigrantes e refugiados em países terceiros; assim como, mais verbas para o militarismo, a corrida aos armamentos, o intervencionismo, a guerra.
Aliás, foi reafirmada no Conselho Europeu a miríade de decisões com vista ao incremento da militarização da UE, como pilar europeu da NATO e de forma complementar a esta, a que se associam iniciativas como a criação de uma força de intervenção militar proposta pela França, que conta com o apoio da Alemanha, do Reino Unido (mesmo saindo da UE) e de Itália, entre outros países – deriva e dinâmicas belicistas a que o Governo PS, em conluio com PSD e CDS, amarra Portugal, colocando o País a reboque das grandes potências imperialistas.
É de salientar que, numa situação em que se avolumam as contradições inter-imperialistas – que têm expressão no carácter extra-territorial das sanções norte-americanas contra o Irão, que atinge os interesses das grandes potências da UE; na imposição de tarifas comerciais entre os EUA e a UE; ou no recente episódio do G7 –, os EUA e a UE se unam em torno de uma mesma agenda agressiva na Cimeira da NATO (que se realiza a 11 e 12 de Julho, em Bruxelas), que constitui a mais séria ameaça aos povos e à paz no mundo.