A lumpenização da política

Filipe Diniz

O ultra-reaccionário norte-americano Steve Bannon anda em viagem pela Europa. Segundo o NYT (9.03.2018) empenha-se em construir «uma vasta rede de populistas europeus a fim de demolir o establishment político europeu».

Os «populistas» que contacta são um catálogo da extrema-direita. De França, Itália, Suíça, Alemanha, Hungria, Polónia e outros lugares, incluindo o Vaticano. Participando no congresso do Front National, declarou que «a história está do nosso lado». Onde Marine Le Pen voltou a repetir a afirmação de que «esquerda e direita deixaram de fazer sentido», afirmação-chave que sustenta a actual ambição da extrema-direita em constituir-se como movimento transversal a toda a sociedade. A palavra «populismo» é hoje instrumento da ideologia dominante para turvar ainda mais as águas da política.

«Populismo» é aplicado a torto e a direito: à «Lega Nord» e ao «5Stelle», a Le Pen e a Corbyn, a Trump e a Chávez, porque todos se dirigem a amplas massas e colocam problemas sociais reais. Quanto à diferença de fundo – a quem atribuem a causa desses problemas – a categoria «populismo» ignora-a, e com esse equívoco pretende bloquear a análise e o combate ideológico. As forças políticas que Bannon anda a visitar não são, como sucede em Itália, os relativamente pequenos bandos de fascistas que se assumem como tal, que desempenham igualmente um papel nestas águas turvas. Mas uns e outros são hoje reflexo de um fenómeno que tende a acompanhar as crises do capitalismo: a ascensão do lúmpen enquanto porta-voz do nível mais degradado da ideologia burguesa.

Em «A greve» Eisenstein introduz o universo do lúmpen fura-greves com a legenda Подонки оbщeстьа (a escumalha). É essa a legenda que se aplica aos Bannon deste mundo, mais o seu «populismo».




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