Interpretar o mundo para melhor o transformar

MARXISMO-LENINISMO A conferência do PCP comemorativa do II centenário do nascimento de Karl Marx, realizada no sábado e domingo no salão da Voz do Operário, em Lisboa, constituiu um momento alto de reflexão sobre o mundo contemporâneo e os caminhos para a sua transformação.

A obra de Marx é indispensável para os combates do nosso tempo

A conferência foi uma realização notável por várias razões. A principal será, porventura, a qualidade e profundidade das intervenções proferidas. Englobadas em quatro grandes áreas temáticas (economia, organização social, política e filosofia), elas destacaram as concepções teóricas e a acção revolucionária de Marx e do seu companheiro Friedrich Engels, os desenvolvimentos subsequentes (nomeadamente os introduzidos por Lénine), e a sua aplicação às realidades do nosso tempo.

A par dos fundamentais registos históricos, as intervenções apresentadas na conferência debruçaram-se sobretudo sobre a realidade actual do capitalismo e da luta ideológica, desmontando-os com os instrumentos de análise e intervenção legados por Marx, Engels e Lénine. O contexto histórico em que tais instrumentos surgiram foi evidentemente realçado, mas sublinhou-se a sua validade na luta revolucionária contemporânea.

Muito embora se tenha ido fundo na interpretação do mundo, a conferência e as intervenções nela proferidas tiveram como objectivo a criação de melhores condições para a sua transformação, ou não fossem a vida e a obra de Marx a estar em destaque e o PCP o promotor da iniciativa. Também o lema da conferência, o mesmo que preside às comemorações com ela inauguradas, é revelador dos seus propósitos: «Legado, Intervenção, luta. Transformar o Mundo.»

Reflexão e emoção

Mas para lá das intervenções (de que damos nota nas páginas seguintes), a conferência foi também especial pela forma como nela se empenharam as centenas de pessoas presentes, que mantiveram a sala sempre cheia durante os dois dias, escutaram atentamente os discursos e estudaram os textos incluídos nas pastas: de Lénine, «Karl Marx, breve nota biográfica com uma exposição do marxismo» e «As três fontes e as três partes constitutivas do marxismo»; «O valor actual do Manifesto Comunista», de Álvaro Cunhal; e, de José Barata-Moura, «Dialética Materialista na compreensão de “O Capital”».

A banca de livros que se encontrava junto à entrada da conferência, com muitos títulos de Marx, Engels e Lénine e sobre o marxismo-leninismo, e a exposição patente no patamar do andar inferior relativa a este II centenário também suscitaram vivo interesse por parte dos participantes.

Emocionante foi a actuação do grupo «Uma Vontade de Música», ao início da tarde de domingo. Seis pujantes vozes (quatro femininas e duas masculinas), acompanhadas por duas guitarras e um acordeão, interpretaram conhecidos temas do cancioneiro revolucionário internacional, da Marselhesa, ao Hino do Komintern, passando pela Canção do Camponês, até à Grândola, Vila Morena e A Internacional – estas últimas cantadas em coro por todos os presentes.

Comemorações prosseguem

Também o local escolhido para a realização da conferência se revestiu de um simbolismo particular. A criação da associação A Voz do Operário em 1883, poucos anos após o jornal com o mesmo nome, insere-se no processo de emancipação da classe operária para o qual tão decisivamente contribuíram Karl Marx e Friedrich Engels. Numa das extremidades do salão está gravada a ouro a frase «Trabalhadores uni-vos», inspirada na consigna final do Manifesto do Partido Comunista.

A conferência do passado fim-de-semana abriu o programa de comemorações do II centenário do nascimento de Karl Marx que o PCP promove ao longo deste ano. Desse programa fazem ainda parte um comício no Porto, a 5 de Maio (dia do nascimento de Karl Marx); uma sessão evocativa dos 170 anos do Manifesto do Partido Comunista, a ter lugar em Almada no dia 6 de Abril; sessões várias sobre a vida e obra de Karl Marx; debates temáticos, em particular sobre O Capital e o Manifesto do Partido Comunista; uma exposição de 15 painéis, que circulará pelo País; iniciativas na Festa do Avante!; a edição e reedição de obras relacionadas com este II centenário; e acções dirigidas à juventude, em escolas e universidades.




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