Parceiros e pudins

Manuel Gouveia

As privatizações não são como os pudins. Não é preciso prová-las para saber ao que sabem. Basta olhar para a receita. Mas uma e outra vez as classes dominantes lá conseguem que a malta não só aceite provar, como coma o pudim todo. Apesar de, de cada vez, essas mesmas massas receberem em troca uma indigestão garantida, ou mesmo um brutal envenenamento.

É para evitar que se olhe para a receita que as privatizações são sempre acompanhadas de uma hábil e longa campanha de publicidade, destinada a convencer um número suficiente de pessoas das vantagens de transferir aquilo que é propriedade colectiva para a posse ou gestão privada.

Estão na fase de profunda indigestão várias privatizações que a seu tempo foram vendidas como a 8.ª maravilha: a dos CTT (degradação e ameaça de desaparição do serviço postal universal), a da EDP (esbulho das massas, degradação das redes, disseminação da precariedade), a da GALP (preços e lucros a subir, impostos, salários e direitos a descer), a da CIMPOR (destruição do aparelho produtivo nacional). E estão frescos envenenamentos recentes como o das Águas de Mafra ou da PPP dos aviões para os incêndios.

Mas a realidade nunca atrapalha os professores doutores das liberalizações e privatizações. E até tendo em conta que o actual Governo, para poder existir, assumiu um compromisso público de travar as privatizações, esses mestres do ilusionismo produziram agora uma nova panaceia: «o parceiro». O Governo, que já tinha aceite um grupo de «parceiros» na TAP, não está a tentar privatizar a sua manutenção, está à procura de mais um «parceiro». Como anda à procura de «parceiros» na EMEF, para realizar dois fofos ACE (Acordo Complementar de Empresas). E deseja outro «parceiro» nos Terminais de Mercadorias.

Seguindo-lhes o jogo de palavras, é evidente a promiscuidade. Mas o que choca é continuarem a dizer-nos para provarmos o pudim. Quando o que nos servem, pintado de fresco, perfumado e acompanhado de um belo molho, é sempre a mesma m...




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