O passado do futuro
A RTP1 está a transmitir às terças-feiras, logo a seguir ao Telejornal, uma série fascinante e inquietante que dá pelo nome de «2077 – 10 segundos para o futuro». Nos dois episódios já transmitidos, de um total de quatro, os espectadores foram guiados por reputados cientistas nacionais e estrangeiros numa viagem de antevisão do futuro que está ao virar da esquina e confrontados com informação que, embora disponível, poucas vezes é servida em horário nobre.
Quantos de nós sabem, por exemplo, que «em 2007, um smartphone tinha mais potência do que os computadores da NASA que levaram o homem à Lua em 1969»? Ou quantos levam a sério a «fantasia» de muito em breve os computadores estarem instalados «nos olhos, nas paredes e em tudo o que nos rodeia»? Ou que o plástico lançado no mar desde 2014 é superior ao plástico produzido desde a sua criação?
De tudo isto e muito mais se falou nos programas exibidos, onde a par da «intercepção da genética, da nanotecnologia e da inteligência artificial» se abordou a «impossibilidade de viver em muitos territórios hoje habitados» caso não se reverta o «envenenamento do planeta Terra» com dióxido de carbono.
Do que não se falou foi de quem domina e ao serviço de quem está esta revolução tecnológica agora à beira de transformar, e em muitos domínios já o está a fazer, a mais delirante ficção científica em realidade. Do que ainda não se falou foi dos responsáveis pelo estado a que o mundo chegou, antes ficando a pairar a ideia de que todos somos culpados pelo que de terrível pode vir a acontecer ao planeta e à humanidade. Tal como não se disse que num mundo dominado pelo grande capital as grandes transformações foram sempre feitas, por opção e não por ser uma inevitabilidade, à custa de milhões de seres humanos.
Anteontem, um dos intervenientes, o comissário Carlos Moedas, disse que a questão «não é política, é tecnológica». Uma visão esclarecedora de quem, para resolver os problemas da Humanidade, insiste no caminho do desastre.