Estratégias para a exploração
Há algumas semanas demos conta neste espaço do Avante! da discussão no Parlamento Europeu sobre a situação dos voos cancelados da Ryanair. Na sequência das perguntas dos deputados do PCP à Comissão Europeia a esse propósito (e onde esta se descartou de quaisquer responsabilidades quanto ao objecto das perguntas), fomos solicitados pela Ryanair para uma reunião onde procuraram «esclarecer» tudo sobre o caso, e apresentar quão «bons empregadores» são.
O director de relações públicas trouxe-nos um conjunto de elementos que, no essencial, confirmam as denúncias feitas em Portugal, como noutros países. Ao estilo de muitos outros grandes patrões, os donos da Rayanair exploram, sim, porque é esse o seu modelo, e fazem-no alicerçados na Estratégia do Mercado Único e da livre circulação do trabalho. É esse o seu móbil, é essa estratégia que os motiva e os enforma.
Assim justificam as suas políticas de baixos salários como um dos elementos centrais para poderam «oferecer» preços «low cost». O exemplo evidente, após repetidas perguntas: o salário médio dos Comandantes da Ryanair é 40% inferior ao dos da Lufthansa (40% inferiores). Mas justificam, com o cinismo próprio de quem explora, que geram milhares de empregos.
Afirmam não poupar na manutenção. Dizem buscar a eficiência numa frota recente, composta por apenas um modelo de aeronave e nos procedimentos de operação altamente controlados. A par, uma equipa optimizada – leia-se, reduzida, e bem conhecidas são as pressões da Ryanair até para comprometer a redundância dos pilotos; uma rotação rápida entre voos (25 minutos); e uma maximização do tempo de voo diário, fazendo o máximo de voos possíveis – ou seja, ritmos de trabalho mais intensos.
É também no Mercado Único que se refugiam para apenas realizarem contratos com a lei irlandesa. O mesmo argumento que usam para justificar a sua activa rejeição a qualquer tipo de contacto com sindicatos: a lei irlandesa não obriga à negociação com as organizações representativas dos trabalhadores. Mas então, se só realizam contratos com base na lei de um país, por que razão não admitem um contrato colectivo para todos os seus trabalhadores ao invés de «contratos colectivos» por cada base operacional (têm 87 em toda a Europa)? «É política da empresa», a única resposta que são capazes de dar. Quer isto dizer, na prática, que dois trabalhadores com as mesmas funções nas bases do Porto e de Lisboa podem ter condições laborais díspares.
Já quanto às sucessivas denúncias que o PCP tem feito sobre a operação da Ryanair no nosso País, uma das mais recentes relacionada com o falso «self-handling» e o despedimento colectivo que provocaram na Portway, nada disseram.
Tudo com o devido enquadramento das políticas e directivas da UE. Nada que se estranhe, tendo em conta os fortíssimos ataques que a UE tem desferido no sector, quer directamente contra os direitos dos trabalhadores, quer através das estratégias de liberalização e concentração da actividade.