Médio Oriente

Ângelo Alves

A si­tu­ação é po­ten­ci­al­mente ex­plo­siva e cada vez mais elu­ci­da­tiva

É cada vez mais evi­dente e ir­re­ver­sível a der­rota mi­litar dos EUA e seus ali­ados na guerra de agressão à Síria. As mais re­centes ope­ra­ções mi­li­tares con­firmam o avanço do Exér­cito sírio em al­guns dos úl­timos re­dutos dos ter­ro­ristas e mer­ce­ná­rios, com a con­quista de po­si­ções na pro­víncia de Hama (zona centro-Oeste, a Norte de Da­masco), onde foram con­quis­tadas as lo­ca­li­dades de Harran e Har­dana, e na pro­víncia de Dayr al-Zawr (Su­deste do País, fron­teira com o Iraque) onde as forças de de­fesa sí­rias re­con­quis­taram a es­tra­té­gica ci­dade de Abu Camal, si­tuada nas mar­gens do Rio Eu­frates, uma das im­por­tantes praças fortes do DAESH.

En­tre­tanto a «co­li­gação in­ter­na­ci­onal» li­de­rada pelos EUA, con­cen­trada no Nor­deste do País, con­tinua a co­meter crimes e mas­sa­cres, ocul­tados pelos media do­mi­nantes, e a de­sen­volver ope­ra­ções e acordos se­cretos com os ter­ro­ristas, como o re­cen­te­mente di­vul­gado re­la­tivo a Raqqa em que as forças mi­li­tares dos EUA or­ga­ni­zaram e pro­te­geram mi­li­tar­mente a fuga de com­ba­tentes ter­ro­ristas do DAESH.

Os es­forços di­plo­má­ticos com vista a uma so­lução po­lí­tica in­ten­si­ficam-se. De­sen­volve-se con­tactos entre Rússia, Irão e Tur­quia com vista à pre­pa­ração da reu­nião em Sochi que à data da re­dacção deste ar­tigo ainda não se re­a­lizou (pre­vista para 22 de No­vembro), mas que po­derá re­sultar na aber­tura de ca­mi­nhos para, reu­nidas as con­di­ções de se­gu­rança, ini­ciar o diá­logo inter-sírio. Por seu lado, os EUA e seus ali­ados tentam manter al­guma ini­ci­a­tiva e con­di­ci­onar os de­sen­vol­vi­mentos fu­turos. A apre­sen­tação de uma re­so­lução no Con­selho de Se­gu­rança da ONU para tentar pro­longar a ma­nobra sobre o ale­gado uso de armas quí­micas pelas forças ar­madas sí­rias é um dos exem­plos, der­ro­tado pelo veto da Fe­de­ração Russa mas também pelas re­ve­la­ções re­centes de que a uti­li­zação de armas quí­micas terá sido da res­pon­sa­bi­li­dade dos ter­ro­ristas com li­ga­ções aos pró­prios EUA.

Mas como já es­cre­vemos nestas mesmas pá­ginas, a pro­vável vi­tória do go­verno e exér­cito sí­rios, em ali­ança com a Fe­de­ração Russa e o Irão, na guerra que tinha como ob­jec­tivo di­vidir o país e ani­quilá-lo como nação so­be­rana, não sig­ni­fica nem o fim das ma­no­bras do im­pe­ri­a­lismo e do si­o­nismo, nem dos enormes pe­rigos com que os povos da re­gião estão con­fron­tados. As peças do cada vez mais com­plexo xa­drez po­lí­tico e mi­litar estão a mover-se ra­pi­da­mente, numa adap­tação à nova re­a­li­dade. Os EUA tentam «olear» um eixo Is­rael-Arábia Sau­dita que as­suma como alvo o Irão. O ob­jec­tivo passa por tentar manter uma si­tu­ação de enorme tensão na re­gião, re­a­bi­litar o papel da di­ta­dura sau­dita e in­tervir na po­lí­tica de re­la­ções co­mer­ciais, que está em ace­le­rada trans­for­mação. É à luz desta nova re­a­li­dade que devem ser lidos os re­centes acon­te­ci­mentos como o golpe pa­la­ciano na Arábia Sau­dita; a in­ten­si­fi­cação da guerra sau­dita no Iémen; as de­cla­ra­ções do ex-pri­meiro mi­nistro do Qatar e a «de­missão»/​se­questro do pri­meiro-mi­nistro li­banês a partir da Arábia Sau­dita, numa clara ten­ta­tiva de­ses­ta­bi­li­za­dora no Lí­bano que possa jus­ti­ficar uma nova agressão de Is­rael vi­sando o Hez­bollah. A si­tu­ação é po­ten­ci­al­mente ex­plo­siva e cada vez mais elu­ci­da­tiva das in­ten­ções do im­pe­ri­a­lismo. Mas si­mul­ta­ne­a­mente é também evi­dente que os EUA e seus ali­ados di­rectos estão numa si­tu­ação re­ac­tiva a der­rotas pe­sadas na sua es­tra­tégia de do­mínio na re­gião.

 



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