Proibições
A ânsia do PSD em fazer prova de vida é tanta que os seus representantes, a começar pelos que têm assento na Assembleia da República, tropeçam nos próprios atacadores e se engasgam com a própria verve. Sem querer entrar na discussão académica de saber se os deputados do PSD dizem o que pensam ou sequer se pensam no que dizem, forçoso se torna constatar, tantos são os exemplos, que na maior parte das vezes em que abrem a boca mais lhes valia estarem calados. Escusam as almas mais sensíveis de tentar ver aqui qualquer laivo de censura, que as mordaças nunca por aqui passaram. O caso é que o universal direito a asneirar, sendo infinito, chega por vezes a meter pena como dizia a minha avó, a quem a vida nunca se cansou de surpreender e que rematava sistematicamente as suas reflexões sobre a humana condição com um caritativo «tão novinho e já assim, coitado...».
Pois foi justamente nesse ponto que me quedei ao ouvir num canal de televisão o deputado António Leitão Amaro afirmar, com toda a convicção, que «foi pela lei anterior que a Legionella passou a ser totalmente proibida, passou a ser zero». Como diz que disse? Isso mesmo.
Queria o deputado dizer que o anterior governo PSD/CDS fez uma lei que pôs fim à fiscalização obrigatória da qualidade do ar nos edifícios, ao que consta por ser cara, mas instituiu a proibição de bactérias. Foi assim uma espécie de agora amanhem-se, lavamos daí as mãos.
O facto de a «proibição» não ter impedido o surto de Legionella ocorrido em Vila Franca em 2014 não coibiu o PSD, nas presentes circunstâncias, de clamar (mais uma vez) que o «Estado falhou».
Face à trágica consequência de vidas perdidas, tanto em 2014 como agora, pode dizer-se que a «proibição» foi óptima, mas como as bactérias não lêem o Diário da República importa concluir que proibir sem fiscalizar sai muito caro aos portugueses. A proibir alguma coisa, mais valia que se proibisse a hipocrisia e as lágrimas de crocodilo.