Cavalgadas
Assunção Cristas foi à Feira do Cavalo na Golegã para se afirmar «chocada» com o ministro da Saúde por ele ter comentado que o nosso País está pobre, velho e às vezes entregue a si mesmo. Uma evidência que, por estes dias, se apresentou abordada em relatórios da OCDE e, nos meses de tragédia com os incêndios, foi dramaticamente sublinhada com mais de cem mortos, mas, mesmo assim, pelos vistos não entra pelos olhos da dra. Cristas. Pelo contrário, «choca-a» que o ministro da Saúde refira os factos.
Investida no seu já clássico papel de Maria da Fonte da linha de Cascais, com amazonas caracoleando cavalos lusitanos em pano de fundo, Cristas vai mais longe e vocifera: «tenho de ficar chocada com estas declarações e dizer ao sr. ministro que há um País que resiste!».
Tendo nascido em Angola exactamente no ano do 25 de Abril, dir-se-ia que Cristas está a experimentar o frisson de panfletária retardada, com a invocação da balada de Adriano Trova do vento que passa, mas adiante.
Ora foi mais adiante que ficou mesmo o caldo entornado, quando a líder do CDS acrescentou que é «para resistir» que deve existir um governo «e não baixar os braços», insinuando que as afirmações do ministro da Saúde sobre as condições do País são «prova» de que o Governo «baixa os braços», o que é impudicamente demagógico – e o que não fica bem a ninguém, muito menos a uma senhora prendada como Assunção Cristas.
O problema, se calhar, está mesmo no CDS, onde Paulo Portas já furou por multifacetados papéis, seja o de «defensor dos agricultores», o de «defensor dos reformados» ou o de «defensor do contribuinte», ficando imorredoiramente conhecido não como defensor de coisa nenhuma – pois nunca defendeu realmente nada, a não ser os seus interesses –, mas apenas como o «Paulinho das feiras», que tudo vende num aranzel barulhento e espumoso.
Cristas, na Golegã, parece candidatar-se também ao papel.
É manifesto que a dirigente do CDS anda nesta dobadoura de intervenções públicas porque o PSD está sem rei nem roque e só marca pontos a propósito da disputa eleitoral com que procura um novo líder. Assim sendo, Cristas procura falar «em nome da direita» aproveitando os palcos que as televisões lhe estendem, seguindo-a diligentemente onde quer que ela diga que vai, como no caso desta Feira do Cavalo, na Golegã.
Só que, em rigor, os partidos da direita não têm nada a dizer ao País, porque o que realmente lhe querem dizer não pode, por prudência, ser dito – que, para eles, o futuro para Portugal é o do empobrecimento e o dos cortes generalizados na qualidade de vida dos portugueses.
É nessa cavalgada de miséria que querem o País – mas não é a ir à Feira do Cavalo que conseguem encaminhar a manada para aí.