O futuro não está nas summit. É vermelho de Outubro
Cem anos da Revolução de Outubro são, também, cem anos de desinformação, manipulação e mentira sobre o acontecimento maior da história da luta dos povos pela libertação da exploração. Numa sociedade em que o poder económico domina o espaço mediático, os órgãos de comunicação social são instrumento privilegiado dessa ofensiva.
A 7 de Novembro, dia em que se assinalou o centenário, os jornais diários dedicaram várias peças ao tema, como fizeram ao longo do último ano. As abordagens podem ser diversas, mas a par da caricatura e da deturpação (quando não da pura mentira) a marca que as une é a ausência da voz dos comunistas portugueses. Excepção única no DN que, nessa data, publicou um artigo do Secretário-geral do PCP.
Há dois exemplos que merecem referência particular. O primeiro consta de um jornal diário da passada terça-feira em que, num daqueles exercícios de «sobe e desce», põe Lénine a descer por ter dirigido a revolução triunfante de há cem anos. Passando por cima do absurdo, a crítica, vinda de onde vem, só pode ser encarada com orgulho por todos os que lutam por uma sociedade livre de exploração.
Um dia antes, no noticiário da noite, um dos canais generalistas levou ao ar uma peça sobre o 7 de Novembro de 1917 e os seus antecedentes. Apenas nos últimos segundos há brevíssimas referências ao processo revolucionário que aí se iniciou, resumido a «atrocidades», «perseguições» e «prisões».
Logo de seguida, entra o comentário de Miguel Sousa Tavares, oscilando entre banalidades, confusões premeditadas e simples contradições. Ora diz que «a Rússia nunca foi um Estado democrático, nunca teve um único dia de liberdade» até hoje, como acusa Lénine de «total desprezo pelas regras do jogo democrático».
Depois de não se fazer uma única referência aos profundos avanços conseguidos pelo poder dos trabalhadores e dos povos no mundo socialista que nasceu da Revolução de Outubro – designadamente no plano científico e tecnológico – a estação de televisão apresentou duas peças sobre a Web Summit, que decorre em Lisboa.
A feira do «empreendedorismo tecnológico», dos «pitch», dos «unicórnios» e dos «speakers» é assim apresentada: com imagens de inovação científica e técnica para as quais contribuíram os avanços alcançados nos países socialistas. A Web Summit é quase como a «luz» em contraposição às «trevas» da Revolução Russa.
Esta enorme celebração do capitalismo, baptizado de empreendedorismo para facilitar a digestão da propaganda, difere radicalmente da forma como, nos países socialistas, se concebia a ciência e a tecnologia. Estas podem ser colocadas ao serviço do povo e dos trabalhadores, das suas necessidades, das suas aspirações e do progresso de toda a humanidade; ou podem ser fechadas numa qualquer summit, para que permitam o lucro de uns quantos à custa da exploração de milhares de milhões em todo o mundo, dependendo de «voluntários» a trabalhar 18 horas por dia à borla – nada de mais bafiento.
O que se escreve e o que se diz na nossa imprensa pode tentar escondê-lo, através da mentira e da manipulação, mas o fim da exploração do homem pelo homem continua a ser a causa «justa, empolgante e invencível» por que vale a pena lutar.