«Chocada»
Quando ouvi as declarações de Catarina Martins sobre o posicionamento das autarquias face ao encerramento de serviços públicos não quis acreditar. Mas a expressão lapidar que usou e repetiu não deixou qualquer dúvida. A coordenadora do BE ficou «absolutamente chocada com o silêncio cúmplice das autarquias durante anos e anos enquanto as suas populações viam ser degradados os serviços que lhes dão apoio».
Catarina Martins, o BE, têm o direito de pensar desta forma sobre o poder local, sobre os autarcas, mas também têm o dever de conhecer melhor o seu trabalho, a sua intervenção, a dimensão democrática e participada desta realidade que, pese embora as entorses que a política de direita impôs, é seguramente um avanço transformador com a marca de Abril.
A afirmação feita ignora as lutas que foram travadas pelas populações e que contaram com o apoio e envolvimento das autarquias, e até seria injusto e pouco rigoroso mencionar apenas as de maioria CDU. Nem tem presente as tomadas de posição de assembleias de freguesia e municipais, quer repudiando intenções do Governo, quer exigindo respostas às necessidades existentes, bem como a intervenção dos órgãos executivos junto do poder central exigindo os investimentos, os serviços e equipamentos públicos necessários às populações. Se dúvidas existissem sobre o campo de resistência que o poder local representa à ofensiva da política de direita, relembre-se o processo de reposição das 35 horas de trabalho nas autarquias que avançou mesmo contra a vontade do governo PSD/CDS.
As autarquias não são espaço de intervenção neutra. No poder local expressam-se opiniões e decisões políticas e de classe, mas uma coisa é identificar e responsabilizar os que são cúmplices com a política de direita (com PSD, CDS e PS enquanto principais protagonistas), outra, diferente, é lançar o anátema sobre todas as autarquias e os eleitos em geral. Uma coisa é certa, as populações puderam contar sempre com os eleitos da CDU para defender os serviços públicos e os seus interesses.