Notações

Henrique Custódio

As agências de notação financeira, com origem nos EUA do século XIX para fornecer ao grande comércio capitalista a análise da solvabilidade dos clientes, evoluiu para uma prática de especulação sem precedentes por parte destes organismos, que constituíram uma espécie de tríade da notação financeira (eram três, que ainda hoje se mantêm) que, sempre ao serviço do grande capital, ora especulam ora escondem as especulações conforme as vantagens do momento, construindo um gigantesco jogo classificativo de empresas ou estados, onde todos descem ou sobem conforme entendem os grandes patrões da finança internacional, que assim têm influência directa sobre a vida dos países e povos, num controle sem rosto nem o mínimo de escrutínio seja de quem for.

Este jogo é tão perverso e arbitrário, que o actual sistema capitalista continua a mantê-lo apesar das responsabilidades directas (e reconhecidas) que as agências de rating tiveram na grande crise que rebentou em 2007/2008, com a explosão da bolha imobiliária nos EUA e a decorrente degradação capitalista, que ainda hoje nos afecta. Nessa altura – e o exemplo é modelar – a Standard & Poor's dava o «triplo A» (a classificação máxima) ao Lehman Brothers, na véspera da sua insolvência e derrocada.

E fica tudo dito sobre a credibilidade que merecem estas agências de notação.

Agora, a Standard & Poor's, por sinal a mais renitente da tríade a vislumbrar sinais positivos em Portugal (os outros pés da trempe são a Moody's e a Fitch), decidiu retirar Portugal do «lixo» em que todas nos classificaram há seis anos, quando decidiram espalhar pela Europa a montanha de lixo financeiro que a especulação bolsista, por elas apadrinhada, erguera e acumulara nos EUA.

É fundamental que não o esqueçamos, agora que a luta contra esta famosa «crise» se agudiza e se torna cada dia mais urgente.

Apanhados de surpresa, os senhores da Europa, na boca do inevitável Dombrosvskis, cumprimentaram Portugal e espalharam as costumeiras adversativas («mas o défice», «mas as reformas»...), enquanto, por cá, Passos Coelho apanhava a nova boleia dos sucessos e proclamava, com inultrapassável descaramento, que «se não tivéssemos tido uma alteração de Governo, a melhoria teria ocorrido, provavelmente, mais rapidamente».

O «provavelmente» é como os «alegadamente» dos tribunais: apenas servem para respaldar os declarantes. Mas o desplante de Passos está lá inteiro, a transbordar falta de vergonha que embaraçaria qualquer um, mas nunca Passos Coelho. O homem é um descarado profissional.

As agências de notação financeira manobram sempre e só pelo capital monopolista.

Romper com esta gente é a tarefa que se nos impõe, para trilharmos o desenvolvimento sem ditames directos do capital monopolista.




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